Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 11, 2005

Tales Alvarenga:Chega de abafa VEJA


"Roberto Jefferson pode estar mentindo.
Mas, a esta altura, é melhor apurar tudo
do que abafar mais uma vez. O Brasil
se cansou de tanto abafa"

Lula não tem outra escolha. Ou limpa a imagem de seu governo com o auxílio de quantas CPIs forem necessárias, ou pode desistir de chegar ao fim do mandato como um presidente íntegro. O essencial, do ponto de vista ético, é ser honesto e não apenas parecer honesto. Do ponto de vista político, no entanto, parecer honesto é suficiente. O governo petista pode ser honesto, mas não parece.

A continuar o jogo de acobertamento, no qual o governo tenta esconder a lama com guardanapos de papel, pode-se prever que reapareçam as multidões de "caras-pintadas" exigindo a apuração das denúncias que o governo insiste em abafar. Se o Planalto e o Congresso querem evitar essa desmoralização, que tratem de fazer a faxina por conta própria. Ainda há tempo e a oportunidade é boa, não apenas para devolver credibilidade ao governo Lula como também para reformar e reforçar as instituições do Executivo e do Congresso.

O governo petista perdeu o prumo moral pela primeira vez quando o assessor palaciano Waldomiro Diniz, braço-direito do ministro José Dirceu, foi flagrado pedindo propina a um explorador do jogo. Esse caso foi abafado. Vieram as recentes denúncias sobre corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil. Diante do risco de uma CPI, o governo começou a liberar verbas para deputados, em troca do abafamento número 2. Finalmente, explodiu a acusação feita pelo deputado Roberto Jefferson, do PTB, à Folha de S.Paulo – e, agora, é inimaginável promover o abafa número 3.

Segundo Jefferson, desta vez estaria envolvido o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, braço-direito de toda a cúpula do governo. Delúbio arrecada e paga. Segundo Jefferson, ele estava dando 30.000 reais a cada deputado que aceitasse votar a favor dos projetos do governo.

Entre os políticos, a ética é um instrumento maleável. Tomar dinheiro de empresários e banqueiros antes de eleição é um ato tido como moralmente aceitável, embora seja de fato um primeiro passo para a corrupção. O PT e o governo Lula estão fazendo muito mais do que isso. Estão dando uma mesada aos deputados para monitorar seus votos. Essa denúncia não está apenas na entrevista do deputado Roberto Jefferson. Foi feita diretamente a Lula pelo governador Marconi Perillo, de Goiás, é reforçada por depoimento do deputado petista Miro Teixeira e pelo prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Está escorada ainda numa reportagem do Jornal do Brasil de setembro de 2004. A matéria do jornal foi abafada no Congresso.

Não há provas de que a história da propina de Delúbio seja verdadeira. As denúncias e os indícios são, porém, avassaladores. Lula estava informado. Ministros do governo também. A coisa era abertamente comentada em Brasília. Metido na roubalheira nos Correios, o deputado Roberto Jefferson deixou claro que se fosse para o banco da CPI levaria junto para o cadafalso o ministro José Dirceu e os "operadores" do PT Delúbio Soares e Silvio Pereira. Mais claro, impossível. Jefferson pode estar mentindo. Mas, a esta altura, é melhor apurar do que abafar mais uma vez. O Brasil se cansou de tanto abafa.

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