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sábado, junho 18, 2005

Para Cesar Maia, atual cenário prejudica Garotinho



Valor (17/06/05)

Maria Lúcia Delgado

Ao analisar a atual crise política enfrentada pelo governo quase que de maneira científica, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), considera que não há chances neste cenário para o crescimento de uma candidatura populista à Presidência da República em 2006, como a de Anthony Garotinho (PMDB). "Acho que vai ser exatamente o contrário. É equívoco imaginar que um quadro desse favorece o Garotinho, porque isso estabelece para candidatos com perfil populista um teto. Pode até ir para o segundo turno. O que a população vai buscar é um perfil antípoda ao de Lula", analisou Maia, que esteve ontem em Brasília para participar do Congresso Nacional de Refundação do PFL. O partido, agora, é oficialmente de "centro".

O prefeito disse não duvidar da honestidade pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas afirmou não ver diferença entre as práticas do PT e do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, que denunciou um suposto esquema de pagamento de deputados em troca de votos favoráveis ao governo no Congresso. Maia confirmou ontem ter ouvido de parlamentares rumores sobre a existência do mensalão. Preferiu não revelar os nomes dos parlamentares que lhe contaram.

O PT, segundo Cesar Maia, usa a ideologia para justificar a corrupção. Ele considera que os petistas repetem no regime democrático uma prática que se justificava na ditadura, quando, por impossibilidade de fazer política, buscavam recursos de maneiras ilícitas, como assaltos à mão armada e seqüestros políticos.

"O que eu estou sentindo é que a prática de alguns dirigentes do PT não mudou. Eles fazem a captura de recursos em nome do proletariado, do povo, da causa, do governo. Eu tenho certeza que nenhum dos nomes citados é pessoalmente desonesto. O Lula, o Genoíno, tenho a certeza de que nenhum é pessoalmente desonesto. Mas, ideologicamente, eles acham que é legítimo desviar recursos de dentro do governo - porque as estatais estão dentro do governo - e usá-los para fortalecer a causa, o partido. Não é diferente do deputado Roberto Jefferson", afirmou. Cesar Maia disse ter certeza de que os fatos de corrupção denunciados são verdadeiros. "Eu não sei se o deputado Jefferson contou todas as verdades que sabe, mas tenho convicção que tudo que contou é verdade", concluiu.

Para o prefeito, a população reconhece qualidades pessoais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, devido à crise, vai procurar um governante cujo exercício da autoridade não gere dúvidas, que tenha capacidade de "administrar, de gerir e de controlar". Ao ser indagado se é ele, Cesar Maia, que teria esse "perfil antípoda", o pefelista disse ter dúvida. "Não sei porque não tive condição de traçar o perfil antípoda, porque vai depender do desdobramento da crise, de que maneira o perfil do Lula ficará marcado. O perfil vitorioso vai ser o antípoda a esse", justificou.

Apesar de ter abrandado o discurso e não pregar diretamente o impeachment de Lula, Cesar Maia disse que o presidente pode sim ser punido por crime de responsabilidade caso as ações administrativas do Executivo para coibir as denúncias não sejam transparentes, publicadas no Diário Oficial da União. "O núcleo da corrupção é o poder Executivo", afirmou.

Sobre o novo posicionamento político do PFL, um partido de centro, Maia rebateu a crítica que se trata de oportunismo político. Alega que todos os partidos do mundo caminham para o centro, uma vez que não há mais polarização política. "Não há força política em nenhum país democrático do mundo que seja viável em relação ao poder se não estiver em torno do centro. Teses que numa política polarizada o PFL não defendia para fazer o contraponto, hoje o PFL tem que defender porque faz parte da sua natureza num momento que a guerra fria acabou", justificou.

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