Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 04, 2005

O "NÃO" DA CHINA


 A tão louvada "parceria estratégica" Brasil-China não foi muito longe. Pequim anunciou anteontem que vai votar contra a proposta de ampliação do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas apresentada em conjunto por Brasil, Japão, Alemanha e Índia. O veto chinês inviabiliza a pretensão brasileira -que já se tornou uma verdadeira obsessão- de conquistar um assento permanente na organização.
A ampliação do CS só poderia ocorrer no âmbito de uma reforma que altere a Carta da organização. Para valer, emendas à Carta precisam ser aprovadas e ratificadas por dois terços dos membros da Assembléia Geral incluindo, obrigatoriamente, os atuais cinco membros permanentes do CS -entre os quais a China.
O veto chinês não diz respeito diretamente ao Brasil, mas sim ao Japão. Não é exatamente uma surpresa. É conhecido o contencioso entre os dois países. Apesar dos sólidos vínculos econômicos, permanecem cicatrizes de guerra. Pequim julga que Tóquio ainda não se desculpou pelas atrocidades cometidas pelo Exército Imperial japonês durante a ocupação da China nos anos 30 e 40. E o nacionalismo chinês não é uma força que possa ser desprezada. A possibilidade de uma vaga no CS para o Japão foi uma das razões pelas quais autoridades chinesas "autorizaram" em abril protestos de rua contra representações diplomáticas japonesas.
O Itamaraty, como é óbvio, não ignorava essa situação. Apesar disso, acreditando em várias declarações de Pequim que podiam ser interpretadas como simpáticas à pretensão brasileira na ONU, Brasília deu à China o status de economia de mercado, reconhecimento que agora dificulta a aplicação de medidas de defesa comercial contra o país no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio). Mais do que isso, o Brasil ajudou a bloquear na Comissão de Direitos Humanos da ONU, resoluções contra a China.
No afã de obter seu tão almejado assento permanente, o Itamaraty vem não apenas sacrificando princípios como ainda ignorando o que já aprendeu sobre história e conflitos entre nações.
folha de s paulo editorial

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