Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 05, 2005

AVALIAÇÃO EM QUEDA

 Ainda não está claro se o governo vai ou não conseguir bloquear a CPI dos Correios, mas já está pagando em popularidade o preço da decisão de tentar fazê-lo. Pesquisa Datafolha publicada hoje mostra que, se a eleição fosse agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentaria, na maioria dos cenários, um segundo turno. Na sondagem anterior, realizada há seis meses, Lula teria de passar pelo segundo escrutínio em apenas uma simulação.
Não é só. Cresceu significativamente a proporção dos que acreditam que existe corrupção no governo federal. Esse número saltou de 32% em março de 2004 para 65%. É razoável supor que essa mudança esteja associada ao caso Roberto Jefferson/Correios, pois 88% dos entrevistados são favoráveis à CPI.
Como não poderia deixar de ser, esse momento mais negativo para o governo também se reflete na avaliação de seu desempenho. O índice de ótimo e bom caiu dez pontos nos últimos seis meses, passando de 45% para 35%. Na comparação com a administração anterior, Lula segue com grande vantagem, embora decadente. Em dezembro passado, 54% consideravam sua gestão melhor do que a de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, são 47% os que pensam dessa forma.
Evidentemente, ainda é muito cedo para fazer prognósticos eleitorais. A pesquisa reflete um instante pouco favorável para o governo, que poderá ser revertido ou agravado. A administração petista já passou por outros maus momentos, como a divulgação do escândalo dos bingos, no início de 2004 -quando o índice de ótimo e bom de Lula despencou de 42% para 38%-, e depois se recuperou.
Seja como for, os erros grosseiros que vêm sendo cometidos pelo governo e os evidentes sinais de desgaste de sua imagem parecem se refletir nas intenções de voto para 2006. O único cenário em que não ocorreria um segundo turno é aquele em que o governador de Minas, Aécio Neves, aparece como candidato tucano. Caso essa posição seja ocupada pelo prefeito de São Paulo, José Serra, por Fernando Henrique Cardoso ou pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, a soma dos votos dados a todos os candidatos supera aqueles destinados ao presidente, o que determinaria o segundo escrutínio -uma hipótese nada favorável para Lula.
Hoje, dentre os tucanos, quem mais se aproxima de Lula é Serra, que fica dez pontos atrás do presidente. O prefeito, contudo, acaba de conquistar seu cargo e enfrentaria dificuldades políticas para abandoná-lo em favor de seu vice.
Independentemente dos apetites da oposição, a experiência ensina que é principalmente o desempenho econômico do país que faz com que seus administradores sejam mal ou bem avaliados. Nesse quesito, o futuro permanece uma incógnita. A economia brasileira vem dando claros sinais de desaceleração, mas a depender de alguns fatores, as amarras dos juros poderão ser soltas de modo que, em 2006, o cenário se mostre mais conveniente para o projeto de reeleição do presidente.
folha de s paulo editorial

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