As estatísticas sobre o crescimento econômico, no primeiro trimestre de 2005, mostram a dimensão dos estragos provocados pela meta de inflação, irrealista, fixada pelo Banco Central. Meu leitor já conhece, em detalhes, o porquê dessa minha afirmação e não vou voltar a ela. Pretendo, hoje, refletir sobre os efeitos que a política de juros, dos últimos meses, está causando na economia.
Vamos, primeiro, tecer breves comentários sobre os números do PIB do primeiro trimestre do ano, divulgados nesta semana pelo IBGE. Eles apontam para um crescimento da economia de 3% para o ano fechado. Uma análise mais cuidadosa mostra que um número da ordem de 2,5% não pode ser descartado. Outra informação relevante é que desses 3% de aumento do PIB, cerca de 1,5% representa apenas um efeito estatístico, chamado de "arrasto" pelos economistas. A expansão efetiva pode ser de apenas 1,5%, na hipótese mais otimista, e de 1%, no caso menos favorável.
O que mais chamou a atenção dos analistas foram os números relativos aos investimentos realizados nos últimos seis meses. Depois de caírem quase 4% no último trimestre do ano passado, reduziram-se em mais 3% no início de 2005. Lembro aqui minha última coluna, intitulada "Máquinas e títulos públicos". Esses dados sobre investimentos apenas confirmam o que escrevi. As empresas estão colocando seus planos de expansão de lado e aplicando seu caixa para render juros. Com isso, estamos voltando, rapidamente, à situação conhecida, no Brasil, como o "vôo da galinha".
A expansão do PIB, no primeiro trimestre, foi puxada pelos resultados do comércio exterior. Também sobre os resultados das exportações, o erro na fixação da meta de inflação vai cobrar um tributo pesado. Os juros fixados pelo Copom estão provocando um movimento especulativo no mercado de câmbio, que vai, com certeza, diminuir o saldo comercial ao longo do segundo semestre e no início de 2005. Estamos, assim, matando a galinha dos ovos de ouro da economia brasileira nos últimos dois anos.
Outros dados importantes, presentes no relatório do IBGE, mostram a intensidade da desaceleração da economia. O consumo das famílias cresceu 1,6% no segundo trimestre de 2004, 1,3% no terceiro e 0,8% no quarto trimestre. Agora, nos primeiros três meses de 2005, o consumo caiu 0,6%. Os números falam por si, não?
Mas a pior estatística é mesmo a relativa aos investimentos. Depois de crescerem 3,5% no segundo trimestre de 2004 e 6,2% no terceiro, reduziram-se em 3,9% no quarto trimestre. Agora, houve queda de mais 3% sobre o nível anterior. Também aqui os números falam por si.
O governo preferiu uma leitura autista desses números -como só Brasília sabe fazer- e promete a retomada do desenvolvimento no restante do ano. O ministro do Planejamento e o secretário de Política Econômica do ministro Palocci argumentam que isso já ocorreu, em 2004, e vai se repetir neste ano. Esquecem que as condições impostas pela política monetária são completamente diferentes nesses dois períodos. No ano passado, os juros só começaram a subir em setembro. Agora, estão nas alturas e devem começar a cair apenas mais à frente.
Finalmente, uma das forças que tem dado algum dinamismo ao consumo dos brasileiros -a expansão agressiva do crédito- deve perder intensidade ao longo dos próximos meses. Com isso, podemos terminar 2005 com a economia crescendo a taxas ainda mais baixas do que a atual, principalmente se o BC for lento no processo de redução dos juros, que deve começar ao longo do último trimestre do ano. Espero a queda da inflação, a partir de julho e agosto, o que vai fazer com que os juros reais aumentem antes de começarem a cair.
folha de s paulo
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