Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 03, 2005

IGOR GIELOW :Politizar a polícia

BRASÍLIA - Na ladeira abaixo em que o governo se meteu para tentar abafar a CPI dos Correios, foi especialmente deprimente o espetáculo promovido ontem justamente por um membro ponderado do gabinete de Lula, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), ao anunciar a Operação Curupira. Em suas palavras, entre vivas à incrível vontade do governo de apurar corrupção: "Esse é um momento efetivo de celebração!".
Aos fatos. A PF começou a desbaratar mais um esquema podre, algo que vem fazendo com uma saudável freqüência no governo atual. Das 75 operações da PF de 2003 para cá, 46 envolveram corrupção, detendo até o meio da tarde de ontem 895 suspeitos -349 deles funcionários públicos.
Louvável, mas sejamos claros: não fez nada mais que sua obrigação. Além disso, número de prisões não significa necessariamente eficácia. Pode indicar abusos. Criminalista prestigioso que é, Bastos sabe disso.
Em operações anteriores, houve críticas não só a excessos que parecem ser inerentes a esse tipo de ação mas também a motivações inconfessáveis. Como todo mundo, policial tem preferência política, e são notórios os petistas, os tucanos, os ligados a essa ou àquela figura pública na corporação. Daí as suspeitas, justas ou não.
Mas, desta vez, o problema é diverso. A Curupira é importante e ataca um problema sério. Não surgiu da noite para o dia, mas foi usada desavergonhadamente como publicidade política. Um sinal dos tempos era visto no site do PT ontem: das nove principais notas, quatro se dedicavam a dizer que, sim, o governo combate a corrupção. CPI? "Direita fabrica crises", proclamava a página, como se o PT ainda fosse de esquerda. Duas das notas falavam, com números mais gerais e generosos, exatamente sobre as ações da PF lulista.
Esse tipo de mistura não acaba bem. Primeiro, porque holofote é bom sobre investigados, nunca sobre investigadores. Segundo, politização de ações policiais para fins de propaganda abre precedente para outros usos, esses mais preocupantes.

folha de s paulo

Nenhum comentário:

Arquivo do blog