Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 17, 2005

NELSON MOTTA :Sem pecado acima do equador

folha de s paulo
AMSTERDAM - Um café europeu como outro qualquer, pequeno, charmoso e enfumaçado, um dos 300 espalhados pela cidade. Entra um senhor americano, encosta no balcão e é recebido com simpatia pelo jovem atendente, um nerd de "oclinhos", holandês. O americano consulta o menu. Conversam um pouco, como um sommelier e um apreciador de vinhos, trocando idéias. Depois de muito escolher, acaba comprando um saquinho de cannabis "Purple Haze", enrola seu baseado, dá umas tragadas e sai fumando pela rua. Entram dois garotões brasileiros doidos para ficarem doidões. Depois um senhor italiano, um casal francês de meia-idade, um negão americano com uma loura holandesa. Um clichê folclórico de Amsterdam? Não mais.
Atualmente, os estrangeiros são maioria absoluta entre os consumidores de maconha nos cafés e nas ruas desta linda e pacífica cidade cortada por canais e pontes. É até engraçado ver tantos jovens, senhores e senhoras estrangeiros, fumando seus "becks" pelas ruas e parques como se estivessem numa Disneylândia de adultos, alegrinhos e soltinhos, desfrutando a liberdade provisória com entusiasmo, para depois voltarem a seus países e a seus trabalhos, à caretice de sempre. Os holandeses não estão nem aí.
Aconteceu o contrário das previsões apocalípticas, que asseguravam que, com a liberação da maconha em Amsterdam, toda a cidade e depois todo o país estariam irremediavelmente viciados. O número de holandeses que fumam habitualmente está diminuindo ano a ano (apenas 4% da população, contra 9% dos canadenses e 12% dos americanos). Os holandeses, como diziam os hippies antigamente, "descurtiram", não se incomodam nem se interessam, ignoram. O negócio é próspero e pacifico, vende pequenas quantidades para adultos, é totalmente legalizado e controlado e gera impostos e empregos. O crime organizado é que ficou desempregado.

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