O GLOBO
A produção industrial em abril cresceu tanto quanto 0%. O crescimento está murchando e a crise política piora o quadro econômico. O economista José Roberto Mendonça de Barros reduziu sua previsão de crescimento em 2005 para 2,8%. No começo do ano, ele previa 3,7%. Outras consultorias e analistas estão fazendo previsões abaixo de 3%.
José Roberto pertence mais ao mundo das coisas do que dos ativos financeiros. Circula muito, fala com muitas empresas e sabe o que se passa na agricultura. Diz que os quatro Agrishows deste ano — Ribeirão Preto, Rondonópolis, Rio Verde e Luiz Eduardo Magalhães — venderam menos da metade do que no ano passado. Uma grande indústria de implementos agrícolas inaugurou uma fábrica nova há poucos meses e até agora não tem encomendas.
Alguns problemas estão se misturando para traçar um quadro de declínio econômico. Um deles não é culpa de ninguém: a severa seca que se abateu sobre o Sul do país, principalmente Rio Grande, destruindo 18 milhões de toneladas de grãos e um quarto da safra de verão do Paraná. O segundo golpe foi a elevação dos juros. Agora, acontece o terceiro golpe: uma crise política de enorme dimensão no coração do governo.
— A probabilidade de uma agenda positiva, que já era baixa, agora tende a zero; projetos como a reforma tributária, completar a criação de agências, uma agenda reformista, tudo isso ficará para depois. E há riscos de que sejam aprovados projetos que deteriorem a área fiscal. Com o ministro Palocci na Fazenda, não vejo risco de desastre pela frente, mas a política econômica passará a ser defensiva e não positiva — diz o economista.
Sua convicção é de que os empresários brasileiros estão na seguinte situação: sobreviveram ao choque da desconfiança eleitoral e ao dólar a R$ 4, exportaram e, com os dólares, reduziram suas dívidas; aproveitaram a onda de crescimento do ano passado aumentando horas trabalhadas. Agora capitalizados, com poucas dívidas, eles estavam preparados para investir, mas perderam o entusiasmo.
— O entusiasmo acabou não só pelo juro alto e seu irmão gêmeo, o câmbio alto, mas pela redução do ritmo econômico e pelo agravamento da crise política. Uma coisa é fazer mais um turno, como no ano passado, outra é assinar um cheque de R$ 50 milhões e fazer uma nova fábrica. Os empresários perderam a coragem.
Os dados da produção industrial de abril, divulgados ontem pelo IBGE, confirmam a impressão do economista. No ano passado, o setor que mais cresceu na indústria foi o de bens de capital, indicando o ânimo investidor. Chegou a 20% o crescimento. Este ano, o mesmo segmento está em queda de 0,8% na média dessazonalizada dos primeiros quatro meses, segundo cálculo do Bradesco. Caiu também a importação de máquinas. Parte importante do investimento em 2004 era em projetos para exportar.
— Com o dólar a R$ 2,50, alguns empresários tinham decidido esperar. Com a crise política, mais investidores decidiram esperar.
Como sempre acontece com o governo Lula, quando a crise chega no Planalto, ela cresce, em vez de diminuir. O governo demora a fazer a coisa certa e, quando faz, é insuficiente. As demissões nos Correios e no IRB para averiguar todas as denúncias com segurança deviam ter ocorrido há mais tempo e não após a denúncia do Mensalão, que não tem nada a ver com as duas estatais. A escolha do novo presidente do IRB, Marcos Lisboa, foi a certa, mas a dúvida é por que o governo deixou uma empresa monopolista, interlocutora obrigatória das seguradoras que atuam no Brasil, virar um ponto de arrecadação petebista?
O PT também reage em câmara lenta. No primeiro dia, negou tudo; no segundo, disse que aceita a CPI dos Correios — a mesma que levou o partido a punir o senador Eduardo Suplicy, na semana passada, por assiná-la — e só hoje Delúbio Soares aparecerá à luz do dia. E antes de aparecer, já foi previamente defendido pelo presidente do PT. O que a sociedade esperaria, no mínimo, era a suspensão do tesoureiro de suas atividades partidárias até que fossem feitas as apurações dos fatos. Afinal, Delúbio é figura onipresente em todas as dúvidas que surgiram durante a administração petista. Sobre ele, pesam dúvidas razoáveis até pelo "sem-cerimônia" com que circula entre os espaços partidário e governamental. Mas Delúbio está previamente absolvido.
Os investidores internacionais continuaram ligando ontem para as mesas do Brasil. Eles estão menos nervosos que os daqui. Acham que, se a situação se complicar para o PT, ficará melhor para o PSDB, cenário que não os assusta. O que não entendem é o risco de ter, por um ano e meio, um governo que não governa, um Congresso que não vota, um país sem agenda. Não se trata de saber quem vai governar o Brasil a partir de 2007, mas, sim, do risco de crise de governabilidade já. Neste ambiente de incerteza e dúvida, os investimentos estão sumindo e o crescimento, minguando.
O PROFESSOR Claudio Haddad pede para corrigir o que saiu aqui sobre suas opiniões a respeito do BNDES. Diz, com razão, que não defendeu seu fechamento, apenas criticou a prática de dar empréstimos subsidiados às empresas, como fator de atraso na criação de um mercado de capitais moderno no país.
Entrevista:O Estado inteligente
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