As próximas semanas vão mostrar uma queda das previsões de crescimento do PIB, porque os analistas estarão ajustando suas expectativas ao que aconteceu no primeiro trimestre. A inflação, em compensação, pode cair nos próximos meses e, assim, melhorar a perspectiva do ano. Se ela cair fortemente, isso pode apressar a decisão do Banco Central de reduzir os juros.
O problema é que há sazonalidade também nos preços e eles costumam subir mais fortemente no segundo semestre. A esperança é de que a elevação dos juros e a queda do dólar, enfim, permitam a redução dos preços. Os juros ocupam espaço tão exagerado no debate brasileiro quanto no esforço fiscal do país. Até agora, a discussão foi sobre o fim do período de aumento das taxas. Em junho, há uma grande chance de que o ciclo de alta seja interrompido. Aí começa uma segunda etapa da interminável discussão sobre o tema: quando eles começarão a cair.
O IPCA de maio deve cair para perto de 0,60%. Em junho, vai cair de novo; para perto de 0,40%. O problema é julho, quando pode voltar a subir por causa de alguns aumentos de preços administrados, entre eles energia em São Paulo.
A intensidade dessa queda vai determinar o rumo da política de juros. Por enquanto, a esperança é de que em setembro os juros comecem a cair. A grande dúvida é o que acontecerá com o ano eleitoral de 2006. Se houver novos episódios de alta de inflação, será possível subir de novo a Selic num momento em que o governo estará lutando por mais um período de quatro anos?
A agropecuária, que segurou o PIB no primeiro trimestre, deve, em algum momento, mostrar na estatística o efeito da quebra de 20% da safra de grãos, que aconteceu no Sul do país pelo longo período de seca. Os economistas acham que o setor agrícola, que foi o que mais cresceu no primeiro trimestre de 2005, fechará o ano com crescimento zero. Por enquanto, os dados ainda estão positivos, mostrando o efeito das altas do café e da carne no mercado internacional. Mas o setor como um todo está com problemas.
Diante dos dados divulgados esta semana, os economistas tentarão projetar o que será preciso acontecer para que se chegue ao crescimento do PIB imaginado para 2005. Com apenas 0,3% de crescimento no primeiro trimestre, o país precisaria crescer 1,6% a cada trimestre até o fim do ano para se chegar a um crescimento de 4%. Se for 3,5%, o crescimento trimestral terá que ser de 1,2%. Por isso, os analistas começam a ajustar seus cenários. Como não farão a mudança todos ao mesmo tempo, as próximas semanas vão mostrar essa queda lenta para um patamar de crescimento menor. Em março deste ano, a média das previsões era de um crescimento de 3,7%. Está em 3,5% e vai cair para 3%.
O ano não está perdido. Ainda há muita coisa boa acontecendo. Os bancos acham que, nas próximas semanas, deve se confirmar o cenário de queda da inflação, apesar de o segundo semestre ser sazonalmente de números piores. A perspectiva é de que aconteça o oposto e a queda do câmbio chegue finalmente aos preços. Os empresários trabalhavam com a hipótese de que o câmbio valorizado era temporário, mas agora já vêem esse patamar como uma tendência. Isso vai acelerar a passagem da queda do câmbio para os preços. Se assim acontecer, a inflação cairá no segundo e no terceiro trimestres, permitindo a redução dos juros.
No setor externo, as notícias continuam boas; quando se comparam as previsões feitas meses atrás com as de hoje, dá para ver quanto o cenário melhorou. No começo do ano, a previsão dos bancos e consultorias era de um saldo da balança comercial de US$ 26 bilhões. Agora é de US$ 35 bilhões, US$ 9 bilhões a mais, apesar de o dólar em queda favorecer a importação. Aliás, no setor externo, a velocidade e a profundidade da mudança do cenário impressionam. No começo de 2003, quando convidados a estimar o balanço externo em 2005, os bancos e consultoria disseram que haveria um déficit de US$ 7 bilhões na conta de transações correntes. Agora apostam em um superávit de US$ 9,4 bilhões. Os dados já confirmados mostram que o país saiu de um déficit de US$ 23 bilhões em 2001 para um superávit de US$ 11 bilhões em 2004. Ou seja, um ajuste de US$ 34 bilhões em três anos.
Mas esses bons números impressionam apenas os especialistas; os profissionais que vivem de analisar, estimar e calcular as previsões dos indicadores econômicos é que valorizam a virada externa. A população tem se mostrado cada vez mais pessimista. Os dados da pesquisa de opinião pública, divulgados esta semana pela CNT-Sensus, mostram que 45,2% dos entrevistados acham que a economia está sendo administrada de forma equivocada, cinco pontos a mais que na última pesquisa. Isso representa uma parcela de 54,6% dos que responderam a questão.
O pessimismo econômico pode aumentar ainda mais o pessimismo político. E vice-versa. Apenas 17% acham que a corrupção no governo Lula diminuiu e 77% acham que ficou igual ou aumentou. Esse não é o momento para o governo jogar com armas tão discutíveis, como tem jogado, para evitar uma CPI.
O eleitor brasileiro, decepcionado com a constatação de que o PT não era um partido melhor que os outros, como apregoava, vai enfrentar uma conjuntura econômica sem brilho, em que as más notícias serão preponderantes.
o globo
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
junho
(405)
- Governo de coalizão ou monopólio político?
- Augusto Nunes - Especialista em retiradas
- Miriam Leitão :Melhor em 50
- Merval Pereira :Radicalizações
- Sai daí, Henrique, rápido!-PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- LUÍS NASSIF:O ajuste fiscal da Fiesp
- Lula lança pacote anticorrupção "velho"
- JANIO DE FREITAS :Um escândalo no escândalo
- ELIANE CANTANHÊDE:ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI:O Pinóquio da estrela vermelha
- A CADA DIA MAIS GRAVE editorial da folha
- Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz J...
- Lucia Hippolitto: Quem manda na República
- Cunhado de Gushiken fatura mais com estatais
- Guilherme Fiuza:Dilma, uma miragem
- Lucia Hippolitto:PMDB nada tem a ganhar se unindo ...
- Villas Boas Lula está sempre atrasado
- DESASTRE POLÍTICO editorial da folha de s paulo
- Fernando Rodrigues - Descontrole quase total
- Merval Pereira - Quadro instável
- Míriam Leitão - Déficit zero
- Tereza Cruvinel - Reforma, apesar da recusa do PMDB
- Luís Nassif - O Grupo "Máquinas e Planilhas"
- Dora Kramer - Publicidade na Câmara
- CLÓVIS ROSSI: O velho morreu, viva quem?
- Tereza Cruvinel - A CPI decola
- Dora Kramer - Casa, comida e roupa lavada
- Lucia Hippolito:"O mistério é pai e mãe da corrupção"
- Um original criador de bois
- LUÍS NASSIF: O tsunami e a economia
- O despertar da militância
- ELIANE CANTANHÊDE:Cadê a mentira?
- CLÓVIS ROSSI: Desânimo continental
- QUEBRA DE PATENTE editorial da folha de s paulo
- AUGUSTO NUNES :Governar é decidir, presidente
- O Congresso não enxerga o abismo -AUGUSTO NUNES
- Luiz Garcia :Falemos mal dos outros
- Arnaldo Jabor :Houve mais uma revolução fracassada
- Miriam Leitão :No descompasso
- Merval Pereira:Normas para a Polícia Federal
- Crise pode afetar a governabilidade
- O dicionário da crise
- A aula magna da corrupção
- O assalto ao Estado
- O homem do dinheiro vivo
- Muito barulho por nada
- Os cofrões do "Freddy Krueger" A ex-mulher de Vald...
- Irresponsabilidade aprovada
- Diogo Mainardi:Dois conselhos ao leitor
- André Petry:Os cafajefferson
- GESNER OLIVEIRA:Agenda mínima para 2005/06
- SERGIO TORRES :Quem sabe?
- FERNANDO RODRIGUES:Gasto inútil
- CLÓVIS ROSSI :A culpa que Genoino não tem
- LULA NA TV editorial da folha de s paulo
- JOÃO UBALDO RIBEIRO :Já não está mais aqui quem falou
- ELIO GASPARI:Circo
- Miriam Leitão :Cenário pior
- O PT e o deslumbramento do poder
- Luiz Carlos Mendonça de Barros : vitória sobre a i...
- Merval Pereira :Controles frouxos
- Ricardo Kotscho:Navegar é preciso
- Villas-Bôas Corrêa:Com CPI não se brinca
- Merval Pereira - Traição e ingratidão
- Míriam Leitão - Diagnósticos
- Luiz Garcia - Onze varas para onze mil virgens
- Celso Ming - Você é rendeiro?
- Tereza Cruvinel - Uma brisa
- Luís Nassif - Te direi quem és!
- Clóvis Rossi - Vergonha
- Eliane Cantanhede - Ao rei, quase tudo
- Dora Kramer - O sabor do prato servido a frio
- entrevista Marcos Coimbra - blg noblat
- Lucia Hippolito :Crise? Que crise?
- augusto nunes Palavrório na estratosfera
- Lucia Hippolito : A face mais bonita da esquerda
- JANIO DE FREITAS: Palavras em falta
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Fim de jogo
- CLÓVIS ROSSI :Bravata ontem, bravata hoje
- Miriam Leitão :Estilo direto
- Merval Pereira :Contradições
- Dora Kramer - Aposta no país partido
- Lucia Hippolito : O risco da marcha da insensatez
- Fim de mandato?-PAULO RABELLO DE CASTRO
- ANTONIO DELFIM NETTO:Coragem política
- PLÍNIO FRAGA :O super-homem e a mulher-macho
- FERNANDO RODRIGUES:A utilidade de Roberto Jefferson
- CLÓVIS ROSSI :O torturador venceu
- ABUSOS DA PF folha editorial
- zuenir ventura Haja conselhos
- ELIO GASPARI:Ser direito dá cadeia
- Merval Pereira :Em busca de saídas
- Miriam Leitão : Reações do governo
- Zuenir Ventura:Choque de decência
- Lula:"Os que torciam pelo desastre do governo teme...
- Dora Kramer - A repetição do erro na crise
- LUÍS NASSIF:Os conselhos fatais
- JANIO DE FREITAS :Cortina de fumaça
- ELIANE CANTANHÊDE:Direto de Marte
- CLÓVIS ROSSI:Olhando além do pântano
-
▼
junho
(405)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário