Palocci tem o que falta ao chefe da Casa Civil, José Dirceu: moderação, sutileza, boa imagem, serenidade, credibilidade, trânsito na oposição, respeito aos pares, habilidades em sintonia fina e a autoridade moral perdida por Dirceu quando seu braço direito, Waldomiro Diniz, foi flagrado em ato de corrupção explícita.
E aqui a comparação é feita com José Dirceu e não com Aldo Rebelo porque é ao chefe da Casa Civil que são atribuídas qualidades de grande articulador político.
Para Rebelo, sobra apenas a conta da responsabilidade pelos equívocos inspirados na lógica da ação rígida, bem ao gosto de Dirceu.
Mas voltando ao ministro da Fazenda, agora ungido (não oficialmente, mas de fato) ao centro da cena política. À primeira vista, o Governo realmente parece ter tudo a ganhar.
No tocante à crise aguda, se Palocci atuar, não será tão improvável a hipótese de o Palácio do Planalto desta vez escapar de uma CPI. Ele vai ao ponto quando esmiuça a razão pela qual é essencial para o Governo evitar a instalação de um processo político de investigação.
Segundo Palocci, "os meninos do PT" não têm preparo profissional nem resistência emocional para enfrentar uma CPI. Palocci exibe cabeça fria e pés no chão e, para concordar com ele, basta observar o desempenho da quase totalidade (são pouquíssimas as exceções) dos deputados e senadores petistas diariamente na Câmara e no Senado.
A maioria é simplesmente inepta, e os melhores quadros têm um certo constrangimento em assumir determinadas posições. A união de gosto pela coisa e com boa formação e atuação aparece em poucos.
O ministro da Fazenda também foi bem na estréia ao não deixar que seguisse adiante a proposta do ministro Luiz Gushiken de os ministros apresentarem suas renúncias coletivamente a fim de "permitir" ao presidente da República fazer a reforma ministerial mais à vontade.
Para a oposição, cujo novo lema é que o presidente não manda nem desmanda, seria um excelente prato pois, ato contínuo à renúncia, tucanos e pefelistas sairiam dizendo que Lula não tem iniciativa nem poder para mexer em sua equipe.
Esta, a questão da autoridade, é um dos problemas – o menor deles – que podem resultar das novas funções do ministro da Fazenda. Por isso, a solução não rende só benefícios e apenas na teoria é um achado.
Na prática, denota fragilidade e reforça a tese do presidente sem capacidade de comando e organização, que entregou a economia a Palocci e agora entrega também a política.
Outro problema, este bem maior, é o risco de o ministro da Fazenda ser contaminado pela barafunda da área política.
O cenário é desgastante, em algumas ocasiões torna-se mesmo degradante, e pode não ser apropriado o ministro Palocci deixar a redoma blindada de um setor bem avaliado para travar batalhas em campo minado.
As chances de ganhos são poucas, e os riscos de perdas, absolutamente monumentais.
Pauta popular
Tucanos como o governador Geraldo Alckmin e o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, incorporaram na última semana em seus discursos frases fortes para desqualificar os predicados de comando do presidente da República.
Outros oposicionistas irão nessa linha. Pautados por pesquisa do instituto Ipsos-Brasil. Na parte qualitativa da pesquisa, em que os consultados opinam, 57% deles concordaram com a afirmativa: "Falta comando e liderança no Governo. Lula tem menos autoridade do que eu esperava".
A frase "Lula cede demais a pressões e termina não fazendo as coisas acontecerem" teve a concordância de 58% dos pesquisados; 48% aceitaram como verdade que "as coisas não acontecem porque Lula não comanda os ministros" e igual percentual apoiou a assertiva: "Lula se comove com os problemas do País, mas não põe a mão na massa para resolver".
Diante disso, os analistas da pesquisa recomendam aos tucanos reforço na idéia de "um Lula fraco, sem pulso, que se cercou de amigos e correligionários dos quais não tem coragem de se livrar nem para melhorar o desempenho do Governo".
Pronto ou parado
O ministro José Dirceu disse que a adoção do pregão eletrônico via Internet para as compras do setor público nada tem a ver com as denúncias de corrupção e licitações suspeitas nos Correios.
"O pregão foi anunciado na hora em que ficou pronto", afirmou.
Não foi, não. A divulgação do pregão ocorreu há 70 dias,em 25 de março, por intermédio do próprio José Dirceu, que na mesma ocasião anunciou: "Vamos transformar 2005 no ano da eficiência".
o dia
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