O governo Lula não sabe enfrentar crise. Duvida, hesita, toma a trilha errada e só após as reações da opinião pública é que vai, em doses homeopáticas, tomando o remédio certo. Isso amplifica a crise. Nos últimos dias, o governo e o PT cometeram uma sucessão de erros. O governo que agora diz que vai apurar tudo é o mesmo que tentou abafar a CPI. O presidente que ameaça cortar na própria carne é o mesmo que defendeu a esdrúxula tese de que "parceiro é solidário com parceiro".
O presidente Lula confunde presunção de inocência — princípio universal do direito — com prejulgamento favorável ao acusado. O PT também fez o mesmo com o tesoureiro Delúbio Soares. Diante de dúvidas razoáveis, o que o governo tem que fazer é suspender o acusado de suas funções para apurar melhor. É necessário garantir que provas não serão alteradas, é preciso dar à opinião pública o conforto de saber que o governo zela pelo interesse da população, e não pelo interesse de companheiros e parceiros. Da mesma forma, age um partido em relação aos seus filiados.
Nesta semana, foi uma sucessão de trapalhadas. O governo demorou a falar e, quando o fez, foi no local errado para o público errado. Não era na reunião internacional que o presidente deveria ter dito que iria cortar na própria carne. Deveria ter sido numa entrevista. Na reunião, deveria ter falado dos princípios de transparência que a democracia do Brasil tanto precisa ver reafirmados. No PT, a entrevista do tesoureiro Delúbio persistiu no estilo posto em prática pelo Planalto: foi uma entrevista em que cada jornalista que tentava insistir na pergunta era admoestado. É mais ou menos como impedir um jogador de futebol dar o passo seguinte numa jogada. Só toque de bola. No jornalismo, a segunda pergunta arremata, esclarece, tira dúvida, conclui a pergunta que o jornalista tenta fazer.
Delúbio se manifestou três dias depois de ser frontalmente acusado de compra de votos. Tudo é em câmera lenta no governo e no PT. E, na entrevista, disse estar sendo vítima — junto com o partido — de chantagem. Mas de quem? Com que propósito?
Um dos grandes argumentos de defesa usados pelo governo, ao confirmar que várias autoridades tinham ouvido falar do mensalão, foi o de que a denúncia fora apurada pela Câmara. Essa sindicância da Câmara foi aberta e fechada sem que ninguém soubesse, sem que o país conhecesse suas conclusões. Nada disso é satisfatório. Como não será satisfatória a apuração feita por uma corregedoria que é presidida por um deputado de um dos partidos acusados de usufruir o benefício mensal.
Desde o começo, o governo errou. As cenas eram inequívocas. Um funcionário público indicado pelo deputado-parceiro pegou o montinho de dinheiro e pôs no bolso, displicentemente, enquanto se jactava da sua intimidade com o deputado. Não qualquer um, mas o mesmo que liderou a tropa de choque de um governo que caiu por corrupção.
A única parceria possível de um presidente é com a República que ele preside. Ao dizer que era solidário com o parceiro, o presidente estava também dando elementos para fortalecer a perigosa idéia que freqüenta a mente dos cidadãos: a de que todos os políticos são iguais e solidários entre si. Uma idéia que mina os valores democráticos.
Novas denúncias surgiram sobre os Correios e o governo ligou o trator contra quem, dentro do PT ou da base, estava defendendo a CPI. Não afastou ninguém de cargo algum e gastou todas as energias abafando denúncias.
A segunda-feira foi o dia inteiro de trapalhadas, um manual de como não enfrentar uma crise. Reação demorada demais parece confissão de culpa. Tentativa de criar um cordão profilático entre o PT e o governo, jogando a acusação apenas sobre o partido. A declaração do ministro Aldo Rebelo de que era problema de "um" partido foi patética. Como haviam sido patéticas as declarações das semanas anteriores de que era uma conspiração das elites contra um presidente operário, conspirações premonitórias que começaram na época de Floriano Peixoto.
O que o governo não pode fazer agora é defender a tese de que a corregedoria da Câmara é instância suficiente para tirar as dúvidas do país; manobrar pela não convocação dos seus ministros para ir ao Congresso falar sobre o assunto; envolver o ministro Antonio Palocci na confusão, como se ameaçou fazer, e abrir o caixa para tentar ganhar a briga custe o que custar.
É errado também querer forçar a agenda positiva à custa de concessões aos empresários com medidas que expandam gastos públicos. Qualquer sinal de frouxidão fiscal será considerado um risco a mais de deterioração da situação econômica. É para esse ponto que o país olha agora. Se começar a ampliar os gastos para forçar uma onda boa e uma pauta favorável, vai apenas levantar mais dúvidas.
Agora é hora de dar todas as explicações pedidas pela opinião pública. Será um momento de efervescência política com alguma turbulência econômica, mas faz parte da democracia. Não é conspiração de grupo algum. É apenas o cidadão querendo explicações para as dúvidas que tem.
Entrevista:O Estado inteligente
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