Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 04, 2005

Merval Pereira : O estilo do Geraldo

Não há dúvida de que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é o avesso do presidente Lula: contido, discreto, dá a sensação de que pensa muito antes de falar, e não se arrisca a um improviso. Acha que as realizações falam mais alto do que o que chama de "palavrório". O ex-governador Paulo Maluf apelidou-o de "picolé de chuchu", frio e sem gosto, no que parecia ser um apelido devastador.

Maluf acabou nem indo para o segundo turno, na disputa pelo governo de São Paulo em que o "picolé de chuchu" venceu José Genoino, o candidato do PT, no ano em que Lula venceu a eleição para presidente.

Se o estilo é o homem, frase do naturalista francês do século 18 Georges Buffon que o governador de São Paulo gosta de repetir, o homem Geraldo — como a propaganda do PSDB começou a chamá-lo, numa prévia do que deve ser o tom amigável que vai tentar impor na campanha presidencial — vai se contrapor a Lula com o estilo discreto, mas afirmativo, de um administrador eficiente. Geraldo, como já o chamava o senador Jorge Bornhausen antes da propaganda, era o candidato preferido do PFL na eleição anterior, quando o PSDB lançou Serra.

Não apenas não havia condições políticas para a candidatura entre os tucanos, como ele precisava enfrentar a eleição para governador para poder se impor dentro do partido como uma opção viável, o que acontece hoje. Tendo assumido o governo do estado com a morte de Mario Covas, um dos ícones tucanos, Alckmin (não consigo chamá-lo apenas de Geraldo) impôs-se como líder político, e hoje tem um índice de aprovação no estado de mais de 60%, que lhe permite, não apenas aspirar à Presidência da República, como também a fazer o sucessor entre candidatos tucanos aparentemente inferiorizados diante de petistas do porte do senador Aloizio Mercadante ou a ex-prefeita Marta Suplicy.

Nada parece mais certo do que uma vitória petista para o governo de São Paulo em 2006, diante da falta de candidatos tucanos de expressão popular. Com exceção da improvável candidatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — que Alckmin chama de "opção Rodrigues Alves", em referência ao político que se elegeu governador paulista depois de ter sido presidente da República -— os demais candidatáveis tucanos não parecem ter força política para fazer frente aos petistas apoiados pelo presidente da República. Mas Alckmin usa a própria experiência para ter esperanças de fazer o sucessor.

Desconhecido vice-governador de Covas, candidatou-se a prefeito de São Paulo e começou com 1% de intenções de votos. Terminou a campanha deixando de ir para o segundo turno por meros sete mil votos. Ele está convencido de que antes que a campanha eleitoral na televisão comece, nenhuma pesquisa tem significação maior, a não ser para Lula, que tem, como presidente, grande exposição pública.

Embora tenha índices de aprovação no seu estado que o levam a vencer facilmente Lula num suposto segundo turno por 51% a 36%, a figura de Alckmin é simplesmente ignorada por cerca de 60% do eleitorado brasileiro. E ele acha isso bom, sinal de que tem por onde crescer na campanha, que ele define como "um embate de personalidades".

Apesar de considerar que a situação econômica à época da eleição será um fator de peso na definição do eleitor, Alckmin não acha que seja o mais importante. Mesmo assim, gosta de destacar o equilíbrio fiscal do estado desde a época de Covas, e salienta que em 2004, se o país cresceu 4,9%, a média dos países emergentes foi maior, o mundo cresceu mais, 5,8% e São Paulo cresceu 7,6%. Ele acha que existem três temas fundamentais para o país hoje: segurança, emprego e saúde.

E até mesmo na segurança, supostamente um calcanhar-de-aquiles de sua candidatura, o governador paulista acha que tem o que mostrar. Tem estatísticas para todos os gostos, demonstrando que o índice de homicídios caiu no estado 12,1% nos últimos cinco anos, enquanto cresceu no país 9,5%. Ressalta que no recente levantamento do Ipea sobre violência no Brasil, a cidade de São Paulo melhorou nove posições, ficando em 24 lugar, na frente de capitais como Recife (10); Vitória (16); Maceió (18); Porto Velho (19) Belo Horizonte (22) e Rio de Janeiro (23). Mas o mesmo estudo mostra que São Paulo tem sete municípios entre os 25 mais violentos do país, enquanto o Rio, outro paradigma de violência, tem cinco.

Para demonstrar como combate a onda de violência, Alckmin destaca a estatística que mostra o crescimento da população carcerária, hoje em mais de 136 mil presos, quase o triplo de cinco anos atrás. E destaca a eficiência dos presídios de segurança máxima do estado, num dos quais está trancafiado o que foi o maior traficante do Rio, Fernandinho Beira-Mar, hoje completamente isolado e desativado em Presidente Prudente.

Católico praticante, de ir à missa aos domingos, Geraldo Alckmin nega que seja da Opus-Dei, uma organização católica considerada reacionária, mas diz que um tio seu, José Geraldo Alckmin, ministro do Supremo Tribunal Federal, em casa de quem morou quando veio do interior para estudar em São Paulo, era membro. E ressalta: "Monsenhor Escrivá (fundador da obra) é um santo da Igreja Católica". Alckmin sabe que esse boato se espalhou para classificá-lo de direitista, mas acha que o eleitorado não se preocupa com os rótulos, e sim com a eficiência da administração.

Tanto pode se transformar em uma caricatura, diante de um candidato popular como Lula, quanto pode transformar Lula em um falastrão inconseqüente, que não merece um segundo mandato.
o globo

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