Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 17, 2005

Luiz Garcia:O sistema e a grana

O deputado Roberto Jefferson tem forma peculiar e muito pessoal de qualificar a circulação clandestina de dinheiro na atividade política.


Quando ele e os seus não participam, como no caso do mensalão, trata-se de escândalo a ser ruminado sem alarde e denunciado com fanfarras na hora de maior vantagem ou necessidade. Quando o dinheiro é em seu benefício — o exemplo é o aporte de dinheiro petista para campanhas eleitorais do seu PTB — ele parece acreditar honestamente que a operação clandestina é sempre inevitável e quase sempre perdoável.

Como ele disse e repetiu com sonora ênfase, todo mundo faz assim na política nacional. No máximo, caso formalmente denunciado, admitiu fazer comunicação temporã à Justiça Eleitoral. Será isso manifestação de honestidade ou disposição de escapar do prejuízo?

Parece óbvio que Jefferson não está sozinho nesse comportamento. Nestes dias complicados, qualquer tentativa de isolá-lo num nicho especial e detestável sempre terá mais cheiro de jogada do que aroma de afirmação de princípios. Pode ser um lance do gênero o esforço do PT para desmentir a doação eleitoral — o que significa pedir que a opinião pública acredite que o malvado Jefferson inventou um pecado grave (não ter registrado a doação na Justiça Eleitoral) só para atazanar os ex-aliados. Talvez um dia, quando não mais fizer diferença, saiba-se a verdade.

Mais importa o fato de que neste momento a opinião pública está olhando para a classe política com repulsa genérica — e não parece muito preocupada em separar vinho de vinagre.

É um clima triste, que quase assusta. Por outro lado, inevitável. Brasileiro conhece seus políticos superficialmente, episodicamente. Há aproximação no momento da promessa eleitoral e distância na hora da cobrança. A distância é mãe do estranhamento. Por isso, não parece ser necessário um escândalo de alta potência para convencer a opinião pública de que os políticos nacionais, com muito raras exceções, são lama do mesmo esgoto. Afinal, quem resiste à tentação de generalizar? Ou ao moralismo superficial? Por exemplo, a idéia de que o poder sempre corrompe?

Seria com certeza mais sadio — e seguramente mais difícil — tentar entender como e por que a estrutura política nacional estimula e freqüentemente recompensa com generosidade alguns dos comportamentos ultimamente revelados.

No fim do caminho mora a constatação de que o sistema partidário brasileiro privilegia fins e maltrata princípios. E, principalmente nos pleitos proporcionais, faz gato e sapato da vontade do eleitor. Temos uma democracia supostamente representativa com baixa taxa de representatividade, apoiada em partidos sem consistência ideológica real (com raras e pouco notáveis exceções).

E o sistema não é apenas politicamente ineficaz: como se tem visto, oferece o caldo de cultura ideal para a grana comer solta.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog