Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 02, 2005

Lucia Hippolito:Que o presidente cumpra com seu dever



"De vez em quando, renasce das cinzas esta idéia estapafúrdia de renúncia coletiva do ministério.
Só no governo Lula, já é a segunda vez que alguém propõe que todos os ministros entreguem o cargo, para facilitar uma possível reforma ministerial promovida pelo presidente.
Mas não é privilégio deste governo. No governo Fernando Henrique mesmo houve uma iniciativa parecida. E o resultado foi o seguinte: os ministros do PMDB fizeram cara de paisagem, não pediram demissão coisa nenhuma, e a história da renúncia coletiva morreu rapidinho.
Agora, a desculpa é ajudar o presidente Lula a reformar o ministério sem precisar magoar companheiros. Não dá. Governar é fazer escolhas, e de vez em quando alguém sai magoado, sim senhor.
Mas esta história da renúncia coletiva é profundamente injusta com os ministros competentes e trabalhadores. Uma renúncia deles seria extremamente confortável para os ministros incompetentes, inoperantes ou envolvidos em grossa irregularidade.
Por que um ministro que trabalha tem que pedir demissão para que aquele que não trabalha não seja exposto ao constrangimento?
No governo Lula, que tem um ministério enorme, os ministros competentes e trabalhadores estão em franca minoria. Seus nomes, todo mundo sabe quais são. Por que cargas d´água deveriam pedir demissão, se estão trabalhando direitinho? Só para facilitar a vida do presidente?
Como muito bem lembrou o ministro Palocci, os cargos de ministro estão permanentemente à disposição do presidente, a quem cabe a responsabilidade de nomear e demitir.
Avançar sobre esta prerrogativa do presidente da República pode ser encarado como uma tentativa de usurpar uma parte do poder que o eleitorado deu a Lula em 2002.
Além disso, renúncia coletiva é uma forma de tornar ainda mais pública uma dificuldade do presidente Lula: a de demitir auxiliares e aliados, novos ou antigos. Ele é amigo de seus amigos e não deixa companheiro ao relento.
Mas explorar esta faceta do temperamento do presidente é papel da oposição, não de companheiros do mesmo partido.
Renúncia coletiva de ministério pode ser um equívoco perigoso. Mesmo em tempos normais.
Imaginem, então, nesses tempos tumultuados de CPI, desarticulação política e desconfiança generalizada."
BLOG Ricardo Noblat

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