Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 13, 2005

Lucia Hippolito;Articulação política deve ficar fora do Palácio do Planalto

Blog Ricardo Noblat

"Parece que o presidente Lula vai mesmo fazer uma reforma ministerial, como resposta à profunda crise moral que atingiu o coração de seu governo.
Claro que as apostas são muitas. Mas uma delas, que tem toda a cara de estar sendo levada a sério, é a transferência do ministro da Justiça, Marcio Thomas Bastos, para a Casa Civil.
Má notícia. Não porque Marcio seja um mau nome, muito ao contrário. Advogado de sucesso, dono de uma das bancas mais bem sucedidas do país, Marcio Thomas Bastos demonstrou ser um excelente ministro da Justiça.
Discreto, operoso, calmo nos momentos em que o governo tem uma crise nervosa e o presidente entra em parafuso, como no caso da desastrada tentativa de expulsar o correspondente do New York Times. Zeloso com os assuntos do governo, como no episódio em que o marqueteiro oficial de Lula, Duda Mendonça, tentou dar uma carteirada ao ser preso em flagrante apostando numa rinha de galo.
Além disso, Marcio Thomas Bastos revelou-se um competente comandante da Polícia Federal, hoje praticamente a única fonte de boas notícias do governo Lula, mas também um ninho de vaidades, brigas internas e disputas de poder.
Mais ainda: o ministro Marcio Thomas Bastos liderou o Executivo na estrada minada da reforma do Judiciário, fazendo uma dobradinha muito proveitosa com o atual presidente do Supremo, ministro Nelson Jobim.
Enfim, por tudo isso, Marcio Thomas Bastos merece aplausos de todas as pessoas de bem do país.
Mas será mesmo que é uma boa idéia transferir o ministro para a Casa Civil? Não parece, não.
Por quê? Ao longo da história da República, a pasta encarregada da articulação política sempre foi o Ministério da Justiça. A Casa Civil, por sua vez, sempre foi uma intermediária entre o presidente e a sociedade civil. Assim, políticos experimentados ocupavam a pasta da Justiça, enquanto intelectuais era chefes da Casa Civil.
No governo Juscelino, gente do calibre de Vítor Nunes Leal, Álvaro Lins e Osvaldo Penido. No governo João Goulart, o mais conspícuo foi Darcy Ribeiro.
Na ditadura, com o assassinato da política, a Casa Civil transformou-se no centro da futrica, que desde então foi confundida com política. Mas não é a mesma coisa.
Fazer da Casa Civil o centro da articulação política do governo é um equívoco primário e perigoso que os sucessivos governos da redemocratização vêm cometendo. Equívoco porque envolve o presidente da República diretamente no cotidiano da política, transfere para dentro do Palácio do Planalto conflitos políticos que acabam ganhando uma dimensão exagerada.
O governo Lula caprichou, porque cedeu as instalações do Planalto, sede do governo da República, para que o tesoureiro do PT fizesse reuniões e acertasse negócios.
Mas transferir Marcio Thomas Bastos para a Casa Civil sem devolver a articulação política para algum lugar na Esplanada dos Ministérios, é talvez queimar a excelente biografia do atual ministro da Justiça e não avançar nada na solução dos problemas políticos do governo Lula."

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