Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 13, 2005

VINICIUS TORRES FREIRE:Eu era infeliz e não sabia

folha de s paulo
SÃO PAULO - O governo Lula deteriorou de tal modo o ambiente nacional, sempre saturado de bactérias políticas, que a fermentação de sua crise ameaça transbordar não só para o futuro mas também para o passado. Não se trata apenas do assanhamento de gente que quer reabilitar sem mais a imagem do tucanato, embora este possa vir a ser o início de um processo de falsificação da história.
Associar a crise apenas ao arrivismo e ao despreparo de Lula e PT é parte da estratégia revisionista. Bom para o país seria o despotismo esclarecido do tucanato, seus tecnocratas insulados, sua "racionalidade", seu apreço pela "técnica". Os tucanos, que quebraram o país duas vezes, com o real forte e com o apagão.
Adeptos do "mercado", do BC autônomo etc., politizavam as privatizações e privatizavam a política no Congresso. Atacavam privilégios na Previdência, a "captura" de instituições econômicas pelo interesse privado etc. Mas institucionalizaram favores a empresas privatizadas com indexação, quase-monopólios e créditos públicos baratos além da conta.
Mas o revisionismo tucano é só parte da falsificação histórica. Depurar o país apenas do petismo-lulismo evita acertos de contas essenciais com o passado, com monstruosidades que apenas retocam a maquiagem ao longo de tantos governos.
A principal monstruosidade é o povo largado em pobreza e ignorância, presa fácil de "mensalistas" e de coisa pior -o "mensalista" é só varejo. Em seguida, vem um país degradado por 25 anos sem crescimento. De resto, o esquema institucional favorece o conúbio entre elites políticas, econômicas e malandragens. Vide a lei financeira nacional, emendada por tanto pleito privado que permite quase tudo a um mercado que já folga sob a pífia supervisão de BC e CVM.
Vide a burocracia federal, dos quadros médios para cima toda ela sujeita ao compadrio, quando não a quadrilhas, pois não é regra a nomeação por mérito e formação na carreira.
Vide o Orçamento federal, quase 20 anos depois da Carta de 88 ainda o principal moedor do governo constitucional no país, um decreto cheio de ficções do Executivo e emendado na margem por malandros.
O PT é só parte do problema.

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