Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 13, 2005

JB Jefferson mira em Ciro Gomes


Deputado Nelson Marquezelli revela que o presidente do PTB tem provas de manipulação da concorrência do projeto de engenharia da transposição do Rio São Francisco

Sérgio Pardellas

BRASÍLIA - Promete ser potencialmente devastador o arsenal de revelações que o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), ameaça apresentar em depoimento amanhã no Conselho de Ética da Câmara. Um relato explosivo do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), durante almoço na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), na última segunda-feira, deu a dimensão do calibre do petebista.

- O ministro (da Integração Nacional) Ciro Gomes está enrolado. O Jefferson (deputado Roberto Jefferson) vai estourar ele no meio - engatilhou Marquezelli, ante olhares surpresos de empresários e parlamentares.

A atmosfera de expectativa se espalhou como rastilho de pólvora no local, ao que o parlamentar do PTB, percebendo um misto de estupefação e ansiedade no ar, acrescentou:

- O Roberto Jefferson tem uma fita que já exibiu para a bancada que comprova a manipulação da concorrência do projeto de engenharia da transposição do Rio São Francisco.

Os detalhes que se seguiram, se confirmados por Jefferson diante do Conselho de Ética amanhã, serão capazes de atear ainda mais fogo à caldeira política que ameaça o Planalto. Segundo Marquezelli, no segundo semestre do ano passado, Jefferson se dirigiu ao gabinete de Ciro Gomes, no Ministério da Integração, acompanhado dos deputados Luis Antônio Fleury (PTB-SP), José Múcio (PTB-PE) e do líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN).

O presidente do PTB estava empenhado em interceder na concorrência ao projeto de engenharia, viabilidade econômica e consultoria da obra de transposição do São Francisco. De acordo com relato do deputado do PTB paulista, Jefferson foi claro durante conversa com Ciro: queria emplacar a empresa de consultoria CNEC Engenharia, uma subsdiária da Camargo Corrêa, no projeto.

O ministro da Integração, embora reticente, teria aberto uma brecha à pretensão do PTB. Afirmou que, em princípio, não poderia atendê-los no pleito, pois já havia acertado com duas empreiteiras num acordo envolvendo ele, Ciro, e o chefe da Casa Civil, José Dirceu. As empresas, segundo Marquezelli, seriam a Construtora OAS, de propriedade do genro e hoje inimigo político do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Cesar Mata Pires, e a Odebrecht.

Mas se Jefferson conseguisse a chancela de Dirceu, o ministro da Integração se disporia a abrir uma vaga no consórcio do projeto de engenharia desde que a empreiteira reunisse todos os atestados exigidos.

- Na ocasião, Ciro estava em plena negociação para ingressar no PTB - lembrou Marquezelli aos ouvintes.

Foi quando do seu celular pessoal, acrescentou Marquezelli, Jefferson ligou na Casa Civil e obteve a autorização do ministro Dirceu. Durante a conversa no gabinete de Ciro, teria sido celebrado outro acordo, segundo relato de Marquezelli: a supressão de uma norma interna do ministério que vedava a participação na concorrência para as obras físicas da transposição de empresas que já tivessem integrado, anteriormente, consórcio para elaboração de projetos de engenharia e viabilidade econômica. Seria o sinal verde para que as empreiteiras também entrassem em licitações posteriores envolvendo a mesma obra.

Conforme apurou o Jornal do Brasil, o almoço, realizado no 16º andar da sede da Federação, que se estendeu a um cafezinho, ocorreu entre 13 horas e 15 horas. Entre os comensais estavam os deputados Mendes Thame (PSDB-SP), Júlio Semeghini (PSDB-SP), Lobe Neto (PSDB-SP), Milton Monti (PL-SP), Telma de Souza (PT-SP), Marcelo Ortiz (PV-SP) e o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch. Embora o encontro tenha ocorrido na Fiesp, Paulo Skaf, presidente da entidade não participou da conversa.

Ao fim da revelação feita por Marquezelli, o deputado estadual paulista Geraldo Vinholi ainda questionou se Jefferson teria ''coragem de contar a história diante de uma CPI''.

- O que se pode saber o que se passa na cabeça dele nesse momento? - devolveu o petebista, aliado de Jefferson desde à época em que ele integrava a tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor.

Ministro nega ter recebido integrantes do PTB


BRASÍLIA - O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, afirmou ao Jornal do Brasil, por intermédio da assessoria de imprensa, que ''não há a menor hipótese'' de ter recebido integrantes do PTB no gabinete, durante o segundo semestre de 2004, para tratar de concorrência para a realização das obras de transposição do Rio São Francisco.

- Chance zero - assegurou o assessor do ministro, Egídio Serpa.

Uma das testemunhas da negociação, segundo o relato do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), o líder do governo no Congresso, deputado Fernando Bezerra (PTB-RN), não negou, nem confirmou. Afirmou apenas não se recordar do encontro:

- Não me lembro.

O líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio Monteiro (PE) negou que estivesse presente.

- Não, certamente não.

A reportagem do Jornal do Brasil manteve contato com a assessoria do chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O jornal ainda deixou recado nos celulares do deputado Luis Antonio Fleury (PTB-SP), durante o fim de semana, no entanto, não houve retorno.

Participantes confirmam relato


Procurado pelo JB na sexta-feira, o deputado Nelson Marquezelli, negou com veemência que tivesse feito tal revelação. Afirmou que há mais de um ano não pisa na Fiesp.

- Não estava lá. Não há a menor hipótese - disse.

No entanto, um dos parlamentares que participaram do almoço, Júlio Semeghini (PSDB-SP), não só afirmou que Marquezelli esteve no almoço, como afirmou o conteúdo da conversa:

- O Marquezelli estava falando que o pessoal tinha uma bomba. Ele comentou que ele (Jefferson) iria apresentar uma bomba que seria uma coisa muito séria. Não tenho mais detalhes porque fui embora mais cedo, mas o assunto era esse - confirmou Semeghini.

O deputado Mendes Thame foi outro que garantiu ter visto Marquezelli numa roda de parlamentares e empresários, embora não recordasse ter ouvido dele a história sobre a suposta manipulação da concorrência do projeto da transposição do Rio São Francisco.

- Até porque não me sentei muito perto do Marquezelli. E quando acabou o almoço fui um dos primeiros a ir embora, pois tinha outros compromissos - justificou Mendes Thame.

O relato bombástico, incluindo os detalhes envolvendo a suposta tentativa de interferência na licitação da transposição do São Francisco, também foi confirmado ao JB por um integrante do PPS que participou do evento, mas pediu para não ser identificado.

As empresas citadas por Marquezelli na conversa confirmam a participação em licitações no Ministério da Integração Nacional da transposição do Rio São Francisco, uma das principais obras sob a batuta de Ciro.

A CNEC Engenharia disse, por meio do seu departamento de marketing, que a empresa pretende disputar a licitação, cujas entregas dos envelopes estão marcadas para o próximo dia 22, para a consultoria e supervisão do projeto executivo das obras civis. A Construtora OAS afirmou que participará da concorrência para a execução da obra e a Odebrecht diz que ''estuda'' fazer o mesmo.

Mais uma vez o ministro José Dirceu é citado pelo petebista


Mais uma vez o homem de confiança do presidente Lula, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, é colocado no meio de denúncias de Roberto Jefferson. O petebista já havia revelado que o ministro estaria a par das mesadas pagas a parlamentares para votar projetos de interesse do Palácio. Apesar de ter negado ontem, a possibilidade de Dirceu deixar o cargo volta com vigor a Brasília. Tendo o caso Waldomiro Diniz como o pontapé inicial para sua derrocada, seguido pelos impasses com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a dramática resolução da reforma política, a queda de Dirceu, se depender das revelações do presidente do PTB, parece estar iminente.

Caso Waldomiro Diniz

O mau agouro começou a respingar no ministro José Dirceu com o escândalo de corrupção envolvendo seu ex-assessor, Waldomiro Diniz. A notícia do envolvimento do então sub-chefe da Secretaria de Coordenação Política num esquema de cobrança de propina de bicheiros para financiar campanhas eleitorais do PT, foi o primeiro escândalo de corrupção do mandato do presidente Lula, que levou a oposição à pedir uma CPI e o afastamento do ministro José Dirceu. Com a explosão do caso Waldomiro, Dirceu quis deixar o cargo, mas o presidente Lula não permitiu. Na Casa Civil, Waldomiro trabalhou com Marcelo Sereno, homem de confiança de Dirceu.

Reforma ministerial

Fim de 2003, início de 2004, Dirceu é, mais uma vez, alvo de especulações. Com o sai-não-sai da reforma ministerial e, posteriormente, com a reforma a conta-gotas, Dirceu pensou de novo em se afastar do cargo. Um dos motivos: mesmo tendo recebido autorização de Lula para esboçar a reforma ministerial, a ação foi abortada pelo próprio presidente meses depois.

Impasse com Palocci

Desde a posse do presidente Lula, os ministros José Dirceu e Antonio Palocci (Fazenda) começaram as trocas de farpas. O estopim para os ataques de Dirceu aos rumos econômicos dirigidos por Palocci foi a política de aumento de juros: uma das primeiras medidas do governo petista. A partir de então, o desgaste de Dirceu em relação a Palocci ficou cada vez mais evidente e freqüente. O ministro deixou claro que discorda da ortodoxia de Palocci.

"Gerentão" do governo

A última derrocada de Dirceu, antes da exacerbação do esquema de corrupção, foi sua mudança de conduta forçada no governo. O ministro, que atuou nas questões sociais e nas relações exteriores, sempre preferiu ficar à frente da coordenação política. Função suspensa por Lula, que o incumbiu de ser um coordenador das ações ministeriais. Ou no popular, um tipo de "gerentão".


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