Hoje eu não ia falar do governo. Tem gente, acho que a maioria, que não acredita, mas a verdade é que não gosto de ficar falando mal do governo, como, aliás, já disse em outras ocasiões. Não só me lembra meu votinho de otário, dado a um partido que acreditava diferente dos demais, como é chato pegar no pé dos homens o tempo todo, ainda mais em nosso querido Brasil, onde nos acostumamos a que tudo tenha por trás armação ou mutreta. Já me acusaram de envolvimento com não sei quantos esquemas, que nem consigo entender direito, tamanha a complicação. O ouro de Moscou, do qual peguei muito para penhorar na Caixa Econômica lá na Bahia (vinha em saquinhos com cifrões impressos, como nas histórias em quadrinhos, se bem me lembro), infelizmente não mais complementa meu modesto orçamento de agente das forças do Mal e das ideologias exóticas. Os dólares manchados de sangue provenientes de Wall Street tampouco têm pintado. Enfim, é uma situação bastante apertada para nós, os que enganam o povo por dinheiro e poder.
Mas isso não vinha impedindo que eu recebesse cartas anônimas que começavam quase sempre com a frase "se você ainda não está inteiramente corrompido". Vai ver, o autor chegou à conclusão de que já sou caso perdido e desistiu. Ou então, nunca se sabe, foi silenciado pela CIA, pelo Mossad, pela Al Qaeda ou pelo comitê municipal do PSDB de Itaparica, organizações poderosas que — não sou eu quem vai revelar, é claro, até porque não sei, esta vida de agente secreto é muito estranha — com certeza estão por trás do que escrevo, principalmente do que digo nas entrelinhas, pois, apesar de minhas negativas, é patente que continuo a escrever muito nas entrelinhas. Por exemplo, embora eu tenha escrito enfaticamente que não admito a idéia de "fora, Lula", assim como não admitia o "fora, FH", me garantiram no boteco que, nas entrelinhas, eu estava afirmando o oposto. Desmenti, mas não creio ter obtido muito sucesso e fiquei até com medo de ser processado por "crime entrelinhal", delito inexistente, mas nada que uma medidazinha provisória não resolva e que, talvez, muito talvez, talvezíssimo, só de brincadeirinha mesmo, pode ter ocorrido, num momento de descontração, ao ministro Gushiken, autor da inesquecível comparação entre o presidente Lula e o imperador do Japão, que nos ofereceu como justificativa para medidas contra a imprensa.
Agora há diversas novidades, das quais os pouparei, contando apenas duas, as mais interessantes. A primeira é a que me parece mais surpreendente, não só para mim como para os abnegados que acompanham esta coluna. Sabe esse pugilo de bravos(as) que eu até cheguei, de certa forma, a lançar a candidatura do dr. Fernando Henrique à Academia Brasileira de Letras, ressalvando que na minha vaga, ou seja, depois que eu já estiver residindo no São João Batista e, em conseqüência, ficar lamentavelmente impossibilitado de comparecer às sessões, a não ser que venham a ser espíritas. Pois agora não passo de porta-voz do dr. Fernando Henrique, é o que estou lhes dizendo. Ainda não sei quanto estou levando nessa, nem que cargo ele me está reservando, nem mesmo o que ele quer que eu portavozeie. Mas existe a convicção entre alguns missivistas de que eu realmente sou porta-voz dele. Quem te viu, quem te vê, nunca pensei, esta vida é um espanto atrás do outro.
A outra novidade é mais difundida e jeitosinha. Trata-se de como eu, um rapaz (licença poética, licença poética) de boa vontade e bons propósitos, mas muito mal informado e bobão, estou sendo engabelado pelo complô dos jornalões, de grandes interesses financeiros e de entidades arcanas de que compreendo muito pouco ou nada, para desestabilizar o governo. Estou, em suma, fazendo o jogo alheio sem saber. Destino chato, este meu. Já não bastava a época dos comunistas da minha juventude, em que eu dedicava quase todo meu tempo a ser inocente útil? Lá vou eu novamente, repetindo a sina e botando o pescoço para fora (segundo alguns, até arriscando-o, espero que apenas metaforicamente) para beneficiar inimigos do povo?
É, pode ser, nunca fui muito bom de política mesmo e minha única eleição foi para a secretaria de Cultura do centro acadêmico da faculdade, isto porque Glauber Rocha, então colega de turma, inventou que tinha de ser eu e me elegeram. Fui professor de ciência política, mas devo continuar a prova viva do que disse Shaw sobre como quem sabe faz e quem não sabe ensina. Com certeza há algum complô mesmo. Muita gente do governo tem se queixado e li no jornal que o dr. Mercadante e o dr. Dirceu reclamaram que as elites estão querendo desestabilizar o governo. Tomei um susto. Não com o que eles disseram, porque quem é presidido pelo orador Luiz Inácio Lula da Silva não tem medo de discurso nenhum, pode vir de lá até americano, que a gente traça. Foi com esse negócio das elites. Então as elites estão querendo desestabilizar esse governo reformista e realizador, presidido por um operário (sic)? A vastidão de minha ignorância espraiou-se imisericordiosa, à minha frente. Eu pensava que elite é um nome que se dá a quem está por cima — e como eu disse, ensinei ciência política e tinha até reputação razoável como professor, há testemunhas. Mas não deve ser, ou eles não diriam. É uma situação horrível. Os banqueiros, elite financeira, não agüentam mais os prejuízos e querem desestabilizar o governo. Os por cima da carne-seca, também elite, não agüentam mais tantas benesses a nossas custas e querem desestabilizar o governo. Quem está no poder, ou seja, o governo, certamente elite, pelo menos no meu tempo, quer desestabilizar o governo. Portanto, ao falar mal do governo, estou é servindo de instrumento para ele. Claro que, além de tudo, vou ficar maluco de vez. Como diz o colega Ancelmo, é grave a crise.
o globo
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