folha de s paulo
O principal efeito político do depoimento de Roberto Jefferson, a par do imenso acréscimo que fez ao aturdimento do governo e da direção do PT, foi a criação imediata de uma segunda e inesperada CPI, quando a Presidência da República não está agüentando nem a existência de uma. O que seria o Conselho de Ética da Câmara, reunido para questionar acusações difundidas por um deputado, embaraçou-se de tal maneira nas próprias acusações, que os desdobramentos inevitáveis transformaram o conselho em uma CPI não aprovada, mas legal.
Lula oferece a melhor demonstração do problema que a segunda investigação lhe causa e ao PT. Tão pouco depois de dizer que "as investigações não deixarão pedra sobre pedra" e está pronto até para "cortar na própria carne", ontem, em telefonema, determinava ao senador Delcídio Amaral não ceder na luta para ocupar a relatoria da CPI dos Correios. Relator que é líder, no Senado, da bancada dos investigados não é, propriamente, uma exigência presidencial decente, nem sugere inocência.
Ocorre, ainda, que o esforço de Lula e dos governistas para controlar a CPI dos Correios frustra-se, em grande parte, se o Conselho de Ética também faz investigação: nele, a presidência é do PTB, governista, mas partido de Roberto Jefferson, e a relatoria é do PFL, linha de frente da oposição. Por fim (ou começo?), se o governo conseguir delimitar a CPI ao caso dos Correios, como pretende, no Conselho de Ética não existe restrição temática, desde que haja envolvimento de deputado. É o que não falta, no caso em discussão.
O que também não falta, porém cá fora, são artimanhas para incentivar a onda de que José Dirceu está na iminência de cair, ou já caído e à espera apenas da hora conveniente ao comunicado. É uma idéia que desfruta de muita simpatia na Fazenda, e na boataria se inclui até a ida de Antonio Palocci para o lugar de Dirceu.
De seguro, nisso, o que se pôde encontrar foi apenas mais uma demonstração de incompetência política do grupo palaciano. Lula e seu círculo não percebem que boatos agitadores só lhes trazem mais desgastes, como mais um atestado da sua desorientação. Mostram-se incapazes da providência simples de ser claros e firmes, pela confirmação ou pela negação.
A insistência a respeito de José Dirceu tem como equivalente a persistência, quase obrigatória na mídia, em reafirmar que Lula é inocente, ignorava tudo, continua "aprovado e querido" pelo povo, e tudo o mais. Ótimo. Nem lembremos que nessas louvações está implícita a denúncia de alienação e omissão. É suficiente notar que Lula e o núcleo da Presidência, saídos em vertical direta da arrogância para a perplexidade, são os responsáveis diretos e exclusivos pelo risco de que se acentue a desaceleração das atividades econômicas. As quais, mostram todos os índices, vêm já do primeiro trimestre, nada têm com as investigações que apenas se iniciam.
Entrevista:O Estado inteligente
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