Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 17, 2005

IGOR GIELOW:Saiu

 folha de s paulo
 
BRASÍLIA - E José Dirceu caiu. Diferentemente do que muitos pensavam há pelo menos dois anos e meio, o sol se pôs e deverá nascer hoje. Caiu pelo peso que começou a representar em 13 de fevereiro de 2004. Se Lula tivesse tirado Zé, como seus amigos o chamam, lá atrás, quando estourou o caso Waldomiro Diniz, muito desgaste teria sido evitado. Poderia haver coordenação política. Talvez não houvesse tanta centralização dos negócios do governo na Casa Civil, sob a alegação pitoresca de que Dirceu era um gerentão eficaz.
Mas não. O Zé era imexível. Gênio. O autor hardcore do projeto Lula light. Mas o que vai ficar no imaginário político e popular é a figura de Roberto Jefferson, justo quem, dizendo: "Sai daí". Saiu.
Assim como Sérgio Motta, seu equivalente do início da era FHC, Dirceu jogou em terreno obscuro e fez inimigos de todos os lados na confecção de seu projeto político -isso assumindo a presunção de sua inocência em episódios como o do "mensalão", algo que agora talvez seja apurado.
Só que Dirceu não teve seu Luiz Eduardo Magalhães, um anteparo político para exercer o poder. Como o serpentário petista e aliado se mostrou mais letal do que o do tucanato, viu crescer seu isolamento. Foi grotesco ver petista graúdo repercutindo sua queda antes do anúncio oficial.
O que acontecerá agora depende do que surgir na CPI dos Correios. Com a degola de Dirceu, talvez o afastamento de uns Delúbios, Lula ganha oxigênio. Mas está no terreno do imponderável. Enquanto isso, deve haver algum mimo para o mercado, candidamente chamado de blindagem da economia. Em tempo, morto está o Zé ministro. O deputado Dirceu ainda dará muito o que falar. Palocci que se cuide: a solidão de uma estrela é diretamente proporcional à sua vocação para alvo.
Toda crise tem um culpado. No caso atual, tudo aponta para Lula. Os erros táticos do presidente tornaram-se um desastre estratégico para o Planalto e para o PT. O governo, como o conhecíamos, acabou.

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