Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 10, 2005

IGOR GIELOW :Verdun no cerrado

folha de s paulo
 BRASÍLIA - Diz o chavão que a guerra traz à tona o melhor e o pior do homem. Tomara que seja verdade: até agora, o conflito em Brasília só fez surgir lama. De construtivo, nada, exceto que alguém acredite que a reforma política seja para valer desta vez, esquecendo que sua defesa é o mantra há anos de governos em crise ética: é tudo culpa do "sistema".
Após mais de três semanas de combates preparatórios, a declaração de guerra foi lida às 16h44 de ontem, quando foi instalada a CPI dos Correios. A primeira vítima já é conhecida: Lula. Aconteça o que acontecer, todo o esforço do governo agora se resume a um programa de redução de danos à imagem presidencial. A aura alimentada por Lula, quase a de um bom selvagem à Rousseau em sua pureza política, já não existe.
A CPI pode virar nada ou pode, sim, levar o governo ao chão. Tudo depende da octanagem do que for exposto. Se apenas um terço dos boatos que transformaram Brasília num pântano de chantagens for verdadeiro, podemos esperar bastante pirotecnia. O ar está irrespirável.
O comportamento no campo de batalha também é importante. O governo começou mal, com Aloizio Mercadante destilando sua incomensurável soberba logo na abertura da comissão. Não deu outra: tomou vaia.
É tola a tática governista de querer estender todas as investigações ao período FHC, como se isso fosse refrear a oposição. Os tucanos não estão no poder. Pode-se achar um baú de sortilégios do seu reinado, mas, se for achada uma só caixinha de maldades envolvendo o governo atual, fica fácil adivinhar quem vai perder.
A CPI pode se tornar uma batalha como a de Verdun, que se arrastou durante 1916. Naquela ocasião, os alemães resolveram atacar com o objetivo de "sangrar a França até a morte", vencer pelo desgaste. Ambos os lados acabaram feridos de forma quase irreparável, sem ganhos imediatos. Resta saber quem, governo ou oposição, acabará lá em 2006 como Falkenhayn, o comandante alemão de 90 anos antes: por fim, derrotado.

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