DÚVIDA NA ECONOMIA

FOLHA DE S PAULO EDITORIAL
Em paralelo ao agravamento da crise política, a economia brasileira atravessa um momento delicado, marcado por um aumento das incertezas. As apreensões, desta vez, não advêm de um risco mais acentuado de movimentos especulativos. Em rigor, graças à melhora substancial das contas externas lograda desde 2003, a economia vai se revelando capaz de absorver turbulências sem sobressaltos mais pronunciados. Constitui exemplo disso a moderação do movimento de alta com que a cotação do dólar reagiu ao agravamento da crise política.
A insegurança que parece ganhar vulto diz respeito às perspectivas da atividade econômica. Apesar de ter completado em março último seu oitavo trimestre consecutivo de expansão, a atividade produtiva revelou incômoda perda de fôlego no primeiro trimestre. Ninguém prenuncia, para o restante do ano, uma inflexão abrupta da demanda, capaz de dar início a uma recessão.
Diminuiu, porém, a aposta na sustentação de um ritmo razoável de crescimento. Foram revistas para baixo as projeções para o crescimento do PIB em 2005 elaboradas por bancos e consultorias. Pode-se creditar a certa decepção com os números do PIB no primeiro trimestre parcela da responsabilidade por essa incipiente piora de expectativas. Mas outros fatores também parecem pesar.
Dentre estes, pode-se citar a apreciação do câmbio, que foi apenas ligeiramente mitigada pela alta do dólar observada nos últimos dias; a persistência dos juros em nível extraordinariamente elevado, por um período que também se estende de maneira preocupante; e a demora em viabilizar estímulos ao investimento, de que constitui exemplo o inconcluso processo de articulação das parcerias entre os setores público e privado em projetos de infra-estrutura.
Há sem dúvida ajustes a serem realizados na política econômica com vistas a estancar a piora das expectativas. Se eles não forem introduzidos a tempo, os temores de que a economia se encontre praticamente estagnada, que hoje parecem um tanto precipitados, poderão se transformar em realidade.