O Estado de S. Paulo |
14/6/2005 |
A renúncia do ministério teria como único objetivo permitir a Dirceu sair à francesa Se a retomada da proposta de renúncia de todo o ministério, feita há dias pelo ministro Luiz Gushiken e devidamente bombardeada por todos os lados, tem como objetivo proporcionar uma saída alegadamente honrosa para o ministro José Dirceu da equipe de governo, trata-se de uma solução, além de arrevesada, fadada ao fracasso no tocante à administração da crise política. Em segundo lugar, a retirada do ministro da Casa Civil de cena já foi uma saída, mas perdeu a validade. Agora, se adotada, chega com atraso de um ano e meio. Em fevereiro de 2004, não foram poucos os que defenderam o afastamento de José Dirceu para que o governo mostrasse ao País disposição de esclarecer de verdade o escândalo Waldomiro Diniz e estabelecesse um modelo de conduta impessoal e profissional no trato de questões éticas. Terceiro, a reforma ministerial teria o condão de acirrar os ânimos políticos. Os do PT, na luta pela manutenção de seus 18 ministérios. E os dos partidos aliados, vários direta ou indiretamente envolvidos nas denúncias de corrupção, ainda interessados em permanecer como sócios de um condomínio que, bem ou mal, tem bom prazo de vigência pela frente. Se o presidente da República não conseguiu reformar sua equipe em dezembro do ano passado - quando o seu maior problema era apenas um conjunto de derrotas eleitorais significativas, mas localizadas - e de novo fracassou no intento em março último - quando as tormentas tinham origem em outra eleição mais restrita, a da presidência da Câmara - não seria agora, acuado por acusações de grande repercussão, que faria isso com sucesso. A proposta, surgida no fim de semana e defendida por altos escalões petistas, remete à solução de novelistas dos primórdios do gênero na televisão, que simulavam hecatombes para dizimar o elenco inteiro na esperança de mudar o rumo da história e recuperar a audiência perdida. Algumas vezes deu certo; aqui tal recurso teria como única conseqüência o acréscimo de mais um problema à já bem fornida lista de complicações no entorno do Palácio do Planalto. Além do quê, quando se fala em desmonte do ministério como forma de salvaguardar a figura do presidente da República, dá-se a batalha da crise como perdida. Se a questão são as denúncias de corrupção - o ponto realmente em foco - e o autor primeiro delas, o deputado Roberto Jefferson, é, na visão dos governistas, um desqualificado preso de devaneios movidos a ódio, cumpre, então, apenas aguardar que ele se desmoralize a partir de hoje no depoimento ao Conselho de Ética da Câmara. A sugestão de renúncia do ministério soa a tentativa de desviar a discussão do principal - como de resto também parece a proposta de ressuscitar a reforma política agora, em meio à conturbação do ambiente a ser reformado. Mais: dá a impressão de que o presidente da República não tem força nem disposição para tomar decisões - seja para rever os moldes da composição de sua equipe, seja para simplesmente tirar de cena José Dirceu, na esperança de não vir a dividir com ele eventuais prejuízos resultantes da crise. Blindagem Aparentemente esquisita, a insistência do deputado Miro Teixeira em repetir que o deputado Roberto Jefferson ainda não revelou todos os fatos relatados tempos atrás a ele quando lhe contou sobre a existência do chamado mensalão, tem uma razão de ser. Miro não quer ser apontado como cúmplice, mais não seja por omissão, quando - e se - Roberto Jefferson vier a detalhar suas denúncias sobre pagamento de mesadas a deputados em troca de apoio. Não pretende servir de álibi ao presidente do PTB. Vantagem perdida O governo poderia já ter superado sem maiores traumas o obstáculo pela indicação do presidente e do relator da CPI dos Correios, a ser vencido hoje. Conta com maioria na comissão para ganhar as indicações no voto e, regimentalmente, também tem essa prerrogativa. É majoritário na Câmara e, atuando em bloco com o PMDB, passa a ter condições de nomear o titular do posto-chave na representação do Senado. Se o Planalto não tivesse resistido à CPI, a oposição estaria um tanto sem argumentos objetivos para pleitear o presidente ou o relator e soaria artificial a alegação de que ao governo interessaria ter os dois postos para manipular e tornar a comissão inócua. Jogaram mal os governistas, desperdiçando a vantagem inerente à maioria de contabilizar vitórias em silêncio e deixar ao adversário o exercício do esperneio sem resultados. Ao apostar no confronto político prévio, o governo jogou fora a chance de derrotar tecnicamente a oposição no transcorrer dos trabalhos da CPI, fazendo valer sua supremacia numérica. Agora, por mais justas que sejam suas propostas, elas serão a todo instante postas em dúvida sob a chancela de uma alegada operação abafa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, junho 14, 2005
Dora Kramer - Reforma sem causa
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