Quadros do Partido dos Trabalhadores e do Executivo são acusados de operar ou de ter conhecimento de um amplo esquema fisiológico no qual a corrupção de parlamentares de partidos aliados se fazia por meio da utilização de recursos provenientes de empresas privadas e estatais. Diante das novas denúncias, ontem, em seu programa quinzenal de rádio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ressaltar que a corrupção no Brasil "não é uma coisa nova" e que seu governo a tem combatido.
Com efeito, esta Folha, em mais de uma oportunidade, já destacou o que todos sabem -a corrupção é um problema que aflige o país de longa data. E este jornal, seja qual for a coloração política dos governantes, tem procurado cumprir sua missão de divulgar os fatos que apura -como ocorreu, para citar um exemplo, com as evidências de compra de voto na apreciação da emenda da reeleição, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Também já se elogiou neste espaço a atuação da Polícia Federal, que tem realizado operações de vulto e desbaratado quadrilhas de corruptos.
Nada disso, porém, exime o governo de fornecer explicações sobre as denúncias envolvendo os Correios, o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e o suposto "mensalão".
O presidente Lula disse que gostaria de ver no Brasil uma operação como aquela que, na Itália, sob o nome de "Mãos Limpas", promoveu uma ampla devassa na máquina pública, sem poupar políticos os mais proeminentes. E reafirmou seu compromisso de investigar as denúncias. São palavras auspiciosas, mas que contrastam com as primeiras reações à nova entrevista do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson.
Representantes do governo trataram de imediato de desqualificar o autor das denúncias, por ser suspeito de envolvimento no caso dos Correios e afirmar que não possui provas. Tratar-se-ia de um acusado querendo passar por vítima.
Ora, o próprio deputado, já em sua primeira entrevista à jornalista Renata Lo Prete, na qual denunciou o esquema das "mesadas", foi claro quanto aos sentimentos que o animavam. "Percebo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido", disse.
Ou seja, vendo-se na iminência de ser sacrificado, Jefferson decidiu falar. No domingo, acrescentou às suas denúncias anteriores nomes de supostos operadores do "mensalão", referiu-se à origem do dinheiro e afirmou que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o presidente do PT, José Genoino, participavam da distribuição de cargos. Reuniões com este fim teriam ocorrido numa sala situada no Palácio do Planalto.
Hoje, Jefferson irá depor na Comissão de Ética da Câmara. Ao que se supõe, reafirmará o que disse -e poderá fazer novas declarações. Ainda que realmente não possua provas, será difícil desqualificá-lo. Trata-se, afinal, do líder de um partido político aliado do governo, ao qual o presidente da República chegou a declarar que daria um "cheque em branco". Seus relatos parecem reunir material mais do que suficiente para justificar uma profunda investigação.
É de esperar que, sob a liderança do presidente da República, o governo tome as medidas necessárias para tranqüilizar o país, garantindo que os fatos serão esclarecidos -mesmo que para tanto seja preciso, como disse, "cortar na própria carne".
Entrevista:O Estado inteligente
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