Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 14, 2005

CLÓVIS ROSSI Retratos do pântano

folha de s  paulo
SÃO PAULO - O que mais retrata o pântano político em que o país está metido é o fato de ouvir-se, de parte dos acusados, muito menos um brado de indignação pelas supostas mentiras do deputado Roberto Jefferson e muito mais um suspiro de alívio pelo fato de ele próprio dizer que não tem provas. Um segundo retrato está dado pelo fato de que se desqualifica tudo o que o Jefferson diz menos a declaração de que ele não tem provas. Estranho, não é?
Um terceiro retrato vem do comportamento recente de quem o desqualifica agora. Para o meu gosto, Jefferson era desqualificado desde o momento em que fez gostosamente parte da tropa de choque de um presidente desqualificado como Fernando Collor de Mello.
Quem o "requalificou" foi o PT ao aliar-se a ele e ao entregar-lhe estatais como os Correios.
Pior: a "requalificação" prosseguiu mesmo depois de o vídeo divulgado pela revista "Veja" ter mostrado que havia um esquema de corrupção nos Correios entregue a Jefferson.
Ou alguém já esqueceu que, depois desse episódio, os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo ajoelharam-se diante de Jefferson pedindo que ele e seu partido retirassem o apoio dado à CPI dos Correios?
O ajoelhar-se pode até ser mentira, embora não tivesse sido desmentido naquele momento por Dirceu ou Rebelo, porque não convinha politicamente desagradar a Jefferson.
Mas que houve a súplica a ele, não resta a menor dúvida.
Como é que você, caro leitor, qualificaria quem se ajoelha ou suplica diante de um desqualificado?
Pois é. Agora o pântano só faz crescer. O governo e uma fatia substancial do Congresso tornaram-se reféns de uma pessoa que todos insistem em classificar de desqualificado.
Pior: com ou sem provas, boa parte do público tende a acreditar em Jefferson, menos por mérito dele e mais porque tantos outros meteram pés e mãos no charco.

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