Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 14, 2005

Jânio de Freitas - Três certezas





Folha de S. Paulo
14/6/2005

O programado depoimento do deputado Roberto Jefferson, logo mais, à Comissão de Ética (sic) da Câmara, abre na crise uma nova etapa que, entre incontáveis interrogações gerais e insondáveis medos pessoais, leva a três certezas.
A primeira provém da persistente afirmação do deputado de que Lula estava "completamente desinformado" do "mensalão". É uma certeza que Roberto Jefferson não pode ter. O que proporciona a certeza de que está retribuindo à altura a solidariedade pessoal e presidencial que Lula lhe deu, pronta e publicamente, quando "Veja" publicou o ainda inexplicado caso dos Correios.
Tanto Lula poderia ter sabido antes de ser informado por Jefferson, como o "mensalão" poderia nem ser uma iniciativa tão sigilosa no Planalto, sem que o deputado saiba de uma ou de outra coisa. Ainda assim, vale notar que seu inegável gesto de retribuição tem, além do mérito comum às gratidões, o da raridade no meio político.
Outra certeza consolidada, embora suscetível de (improvável) reversão, está bem clara: Roberto Jefferson ganhou a disputa pela opinião pública. É, por sinal, uma situação curiosa e rara: a opinião pública deposita sua confiança nas palavras de quem se tornou objeto de vasto repúdio público. E o faz em detrimento dos que, por mais de 20 anos, foram portadores da palavra moralmente mais credenciada na política.
A inversão provém em parte da degradação dos parlamentares no conceito generalizado. Mas sobretudo é a decorrência do espetáculo de desorientação, temor e vulnerabilidade oferecido ao país pelo núcleo orientador da Presidência, pelos dirigentes do PT e pelas lideranças petistas no Congresso. Quem não houvesse admitido veracidades na primeira entrevista de Roberto Jefferson, se assistiu ao acovardamento do acusado Delúbio Soares, depois de três dias de preparação para encarar mansos repórteres, não precisou de mais razões para escolher onde depositar suas fichas.
Uma pergunta simples: se na Presidência, no direção do PT e entre os parlamentares petistas não houvesse ciência dos atuais riscos provenientes de más práticas passadas, estariam tão desorientados, a ponto de parte deles querer entregar José Dirceu como bode expiatório? Com esta ou outra formulação, perguntas desse gênero estão feitas por todos os cidadãos. E respondidas.
A desorientação entre os governistas, como se alguém houvesse jogado água no formigueiro, abre um risco que excede o âmbito político e o governo. Mudança do ministério por decisão imediata de Lula, renúncia coletiva dos petistas para chegar ao mesmo fim, queimar José Dirceu que é única cabeça política no núcleo palaciano, e outras coisas assim, são conselhos asnáticos que, feitos com tanta desorientação quanto a desorientação que os inspira, ameaçam criar o descontrole administrativo que a crise não criou. A chamada governabilidade, mal ou bem, está aí, e só não é melhor porque o comando palaciano é ruim.
Por fim, a terceira certeza. Quem diz que um político e advogado sagaz e experiente como Roberto Jefferson não tem prova alguma do que diz, ou quer se enganar, ou quer enganar.

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