"O confronto entre Leste e Ocidente era uma "cola" que nos unia. Agora, alguma outra coisa tem de substituir a força coesiva que emanava da ameaça comum". (Kurt Biedenkopf, governador do Estado alemão da Saxônia, 1993). O projeto europeu deitou raízes no solo geopolítico da Guerra Fria. A aliança franco-alemã era o motor da unificação européia. O temor comum do "expansionismo soviético" era a "cola" que unia França e Alemanha. O grande "non" francês ao tratado constitucional revela a falência desse motor.
Os franceses votaram na nação, contra a Europa. Não há surpresa nisso: ao contrário do que reza a lenda, o projeto europeu nasceu e se consolidou sob o influxo das motivações nacionalistas. O Plano Schuman, de 1950, que integrou a siderurgia franco-alemã na Comunidade Européia do Carvão e do Aço (Ceca), foi o instrumento da França para prender a Alemanha na teia da Europa. O método da fusão de soberanias, que gerou o Mercado Comum, servia ao empreendimento americano de "invenção" de uma Europa Ocidental anti-soviética, mas, sobretudo, proporcionava à França a segurança de saber que o destino da Alemanha estava enlaçado ao seu.
O projeto pós-nacional da integração européia repousa sobre o interesse nacional francês. A reunificação da Alemanha, em 1990, ressuscitou o fantasma de uma "Europa alemã", que freqüenta os pesadelos franceses desde 1871. A solução, negociada entre François Miterrand e Helmut Kohl, foi o Tratado de Maastricht, pelo qual a Alemanha pagava o preço da unidade nacional sacrificando o marco no altar da Europa. O método da fusão de soberanias servia, uma vez mais, a objetivos nacionais: "Toda a Alemanha para Kohl, metade do marco alemão para Miterrand", na síntese espirituosa da época.
A campanha do referendo francês representou um exercício de interpretação do interesse nacional. Jacques Chirac e os principais líderes socialistas defenderam o tratado constitucional como meio de consolidação de uma Europa-potência, capaz de contrabalançar o poder dos EUA e da China. O argumento esbarrou no ceticismo popular, alimentado pelas divisões européias em torno do Iraque e pela degradação da influência francesa numa União Européia de 25 membros.
Os defensores do "non", um arco-íris ideológico estendido entre os dois extremos do espectro e equilibrado sobre o dissidente socialista Laurent Fabius, acusaram o texto constitucional de ameaçar os fundamentos da nação francesa. A sua pregação ressoou entre os trabalhadores e entre os jovens assustados com o desemprego, com a imigração, com as reformas trabalhistas e com os planos de flexibilização de direitos sociais. Marianne e Joana D'Arc, os símbolos contraditórios da França revolucionária e da França eterna, reconciliaram-se na rejeição ao "atlanticismo", ao "modelo anglo-saxônico" e à uma "Europa ultraliberal".
O empreendimento europeu nasceu de duas guerras totais e da Guerra Fria. Jean Monnet, o genial diplomata francês que elaborou o Plano Schuman, desenhou-o na forma sedutora dos Estados Unidos da Europa. Mas o projeto europeu, formulado pelas elites num tempo de catástrofes, nunca foi mais do que um expediente de resgate de Estados arruinados. A Europa carece do estofo que anima as nações: isso é o que os franceses disseram.
folha d e s paulo
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
junho
(405)
- Governo de coalizão ou monopólio político?
- Augusto Nunes - Especialista em retiradas
- Miriam Leitão :Melhor em 50
- Merval Pereira :Radicalizações
- Sai daí, Henrique, rápido!-PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- LUÍS NASSIF:O ajuste fiscal da Fiesp
- Lula lança pacote anticorrupção "velho"
- JANIO DE FREITAS :Um escândalo no escândalo
- ELIANE CANTANHÊDE:ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI:O Pinóquio da estrela vermelha
- A CADA DIA MAIS GRAVE editorial da folha
- Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz J...
- Lucia Hippolitto: Quem manda na República
- Cunhado de Gushiken fatura mais com estatais
- Guilherme Fiuza:Dilma, uma miragem
- Lucia Hippolitto:PMDB nada tem a ganhar se unindo ...
- Villas Boas Lula está sempre atrasado
- DESASTRE POLÍTICO editorial da folha de s paulo
- Fernando Rodrigues - Descontrole quase total
- Merval Pereira - Quadro instável
- Míriam Leitão - Déficit zero
- Tereza Cruvinel - Reforma, apesar da recusa do PMDB
- Luís Nassif - O Grupo "Máquinas e Planilhas"
- Dora Kramer - Publicidade na Câmara
- CLÓVIS ROSSI: O velho morreu, viva quem?
- Tereza Cruvinel - A CPI decola
- Dora Kramer - Casa, comida e roupa lavada
- Lucia Hippolito:"O mistério é pai e mãe da corrupção"
- Um original criador de bois
- LUÍS NASSIF: O tsunami e a economia
- O despertar da militância
- ELIANE CANTANHÊDE:Cadê a mentira?
- CLÓVIS ROSSI: Desânimo continental
- QUEBRA DE PATENTE editorial da folha de s paulo
- AUGUSTO NUNES :Governar é decidir, presidente
- O Congresso não enxerga o abismo -AUGUSTO NUNES
- Luiz Garcia :Falemos mal dos outros
- Arnaldo Jabor :Houve mais uma revolução fracassada
- Miriam Leitão :No descompasso
- Merval Pereira:Normas para a Polícia Federal
- Crise pode afetar a governabilidade
- O dicionário da crise
- A aula magna da corrupção
- O assalto ao Estado
- O homem do dinheiro vivo
- Muito barulho por nada
- Os cofrões do "Freddy Krueger" A ex-mulher de Vald...
- Irresponsabilidade aprovada
- Diogo Mainardi:Dois conselhos ao leitor
- André Petry:Os cafajefferson
- GESNER OLIVEIRA:Agenda mínima para 2005/06
- SERGIO TORRES :Quem sabe?
- FERNANDO RODRIGUES:Gasto inútil
- CLÓVIS ROSSI :A culpa que Genoino não tem
- LULA NA TV editorial da folha de s paulo
- JOÃO UBALDO RIBEIRO :Já não está mais aqui quem falou
- ELIO GASPARI:Circo
- Miriam Leitão :Cenário pior
- O PT e o deslumbramento do poder
- Luiz Carlos Mendonça de Barros : vitória sobre a i...
- Merval Pereira :Controles frouxos
- Ricardo Kotscho:Navegar é preciso
- Villas-Bôas Corrêa:Com CPI não se brinca
- Merval Pereira - Traição e ingratidão
- Míriam Leitão - Diagnósticos
- Luiz Garcia - Onze varas para onze mil virgens
- Celso Ming - Você é rendeiro?
- Tereza Cruvinel - Uma brisa
- Luís Nassif - Te direi quem és!
- Clóvis Rossi - Vergonha
- Eliane Cantanhede - Ao rei, quase tudo
- Dora Kramer - O sabor do prato servido a frio
- entrevista Marcos Coimbra - blg noblat
- Lucia Hippolito :Crise? Que crise?
- augusto nunes Palavrório na estratosfera
- Lucia Hippolito : A face mais bonita da esquerda
- JANIO DE FREITAS: Palavras em falta
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Fim de jogo
- CLÓVIS ROSSI :Bravata ontem, bravata hoje
- Miriam Leitão :Estilo direto
- Merval Pereira :Contradições
- Dora Kramer - Aposta no país partido
- Lucia Hippolito : O risco da marcha da insensatez
- Fim de mandato?-PAULO RABELLO DE CASTRO
- ANTONIO DELFIM NETTO:Coragem política
- PLÍNIO FRAGA :O super-homem e a mulher-macho
- FERNANDO RODRIGUES:A utilidade de Roberto Jefferson
- CLÓVIS ROSSI :O torturador venceu
- ABUSOS DA PF folha editorial
- zuenir ventura Haja conselhos
- ELIO GASPARI:Ser direito dá cadeia
- Merval Pereira :Em busca de saídas
- Miriam Leitão : Reações do governo
- Zuenir Ventura:Choque de decência
- Lula:"Os que torciam pelo desastre do governo teme...
- Dora Kramer - A repetição do erro na crise
- LUÍS NASSIF:Os conselhos fatais
- JANIO DE FREITAS :Cortina de fumaça
- ELIANE CANTANHÊDE:Direto de Marte
- CLÓVIS ROSSI:Olhando além do pântano
-
▼
junho
(405)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário