Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 02, 2005

LUÍS NASSIF:E agora, José?

 Parem com essa história de que a queda do ritmo de crescimento é uma mera freada de arrumação. Paralisa-se o crescimento por alguns meses, acerta-se a inflação, depois se retoma o crescimento.
1) O primeiro passo para iniciar um círculo de crescimento é um choque de oferta ou de demanda que aumente a circulação de riquezas da economia. Na fase Lula, esse choque veio por meio do mercado externo, com economia mundial aquecida e câmbio desvalorizado. Move-se a primeira peça da engrenagem: o setor exportador.
2) Os trabalhadores do setor aumentam suas compras de bens de consumo, os empresários, as de equipamento. E a riqueza começa a transbordar para setores leves, como alimentos, bens de consumo e equipamentos leves. Adicionalmente, o Ministério da Fazenda produziu um choque de crédito, com o empréstimo em folha.
3) O setor de bens de consumo passa a produzir mais, colocando-se em movimento. É a segunda engrenagem a se mexer. Com a ampliação do exército de consumidores, a riqueza transborda também para o setor de serviços.
4) Com o consumo crescendo em duas frentes -a externa e a interna-, a capacidade instalada da economia começa a ser ocupada e chega-se, então, ao momento decisivo: se o empresário acredita que o crescimento irá continuar, toma a decisão de investir. Aí a engrenagem começa a mover também o setor de bens de capital.
5) Com todas as engrenagens funcionando, a demanda continuará crescendo, mas, a essa altura, acompanhada pelo aumento da oferta (dos investimentos).
6) Na fase de transição, ocorre alguma fricção nos preços. Em alguns setores, os investimentos poderão demorar um pouco mais a aparecer, provocando aumentos localizados. Administrados esses problemas com bom senso, se houver sinais claros de que o crescimento continuará, haverá a antecipação da oferta para aguardar a nova demanda. Aí se entra no círculo virtuoso, com queda na vulnerabilidade externa (com os superávits comerciais) e na interna, com a queda na relação dívida/PIB (pela redução dos juros e aumento do PIB).
O que faz o Banco Central? Quando começam as primeiras fricções de preços, aumenta violentamente os juros. Corta o consumo pela ponta da demanda interna, encarecendo os financiamentos, e da externa, apreciando o câmbio.
Abortada a perspectiva de crescimento da demanda, o empresário volta atrás em sua decisão de investir. E toda a engrenagem começa a emperrar, peça por peça, matando a oportunidade do salto para o novo patamar de produção.
De onde virá a próxima retomada? Novo crescimento de exportações dependerá de nova desvalorização cambial -já que a herdada pelo governo Lula foi jogada pela janela-, com todas as implicações inflacionárias. Dependerá do dinamismo da economia internacional, que está em queda. Dependerá do aumento dos investimentos -que foram abortados pela alta dos juros e redução do câmbio.
E ainda há eleições no ano que vem.
folha de s paulo

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