Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 02, 2005

clóvis rossi:Jabuticaba podre

SÃO PAULO - Em agosto do ano passado, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária, o que decide a taxa de juros) dizia o seguinte: "Mesmo que o cenário inflacionário venha a requerer um ajuste na taxa de juros básica, é importante reiterar que isso não acarretará prejuízos ao processo de crescimento sustentado da economia brasileira".
Bom, nove meses depois de uma sucessão de "ajustes", nasce o rebento dessa afirmação absolutamente contrária ao mais elementar sentido comum: "desaceleração geral" da economia brasileira.
Em qualquer país sério, em qualquer governo minimamente sério, o presidente do Banco Central e todos os diretores que fazem parte do Copom seriam demitidos por justa causa. Ou mentiram, para justificar o injustificável, ou seja, mais aumentos numa taxa de juros já obscenamente alta, ou não têm a mais leve idéia nem sequer do bê-á-bá.
Em qualquer lugar do mundo, até bebê de colo sabe que juro alto é inimigo da atividade econômica, porque, como é óbvio, encarece o custo de um insumo fundamental como é o dinheiro. Pretender que, no Brasil, não haveria "prejuízos ao processo de crescimento sustentado da economia" é querer inventar o juro jabuticaba, que só existiria no Brasil.
Vê-se agora, pelos dados do IBGE, que tampouco no Brasil existe juro alto que não iniba a atividade econômica, o que, aliás, 11 de cada 10 analistas sérios vêm dizendo faz um monte de tempo.
Mas, como o presidente da República também gosta de suas jabuticabas, o governo inventou que basta o brasileiro "levantar o traseiro da poltrona" para que os juros caíam. Vai ver que o BC, ao aumentar continuamente os juros, estava só testando a mobilidade dos traseiros tupiniquins.
Enfim, está aí a ata do Copom de agosto e estão aí os números da economia. Mostram que a jabuticaba apodreceu. Vai-se mudar o Copom ou é melhor demitir os números?
folha de spaulo

Nenhum comentário:

Arquivo do blog