Depois do depoimento do deputado Roberto Jefferson no Conselho de Ética da Câmara -quando a sociedade foi convidada a renovar suas piores impressões sobre parte expressiva da classe política-, veio a ser finalmente instalada a CPI dos Correios. E o foi à feição do governismo, que conseguiu conquistar a presidência e a relatoria da comissão. Sendo assim, aumentaram as chances de que se instaure no Legislativo um inquérito chapa-branca -ou seja, circunscrito às conveniências do governo.
Investigações desse tipo, entretanto, nem sempre conseguem seguir um roteiro previamente determinado. No caso da CPI dos Correios, o propósito é concentrar as atenções nas denúncias de corrupção naquela estatal. Em princípio, seu objeto é a divulgação da fita de vídeo na qual o funcionário Maurício Marinho recebe dinheiro de um interlocutor e afirma que o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, comanda um esquema de intermediação de negócios na empresa.
Ninguém desconhece, porém, que, desde a divulgação do vídeo, uma série de novas denúncias veio a público. Elas são graves e não podem ser varridas para baixo do tapete.
Anteontem, na Câmara, Jefferson confirmou as entrevistas nas quais dizia que o PT pagava "mesadas" a parlamentares de partidos aliados utilizando dinheiro de empresas privadas e estatais. Se já se mostravam verossímeis, tais acusações, que o governo rechaça como mentirosas, se tornaram ainda mais inquietantes à luz das reações do meio político e do aparecimento de outros elementos -como os apresentados na entrevista da secretária Fernanda Somaggio à revista "Isto É Dinheiro".
Não há dúvida de que nessas situações cresce o risco de denuncismo e aventuras. As afirmações da secretária, contudo, contêm aspectos que reforçam a necessidade de uma ampla apuração dos fatos.
Somaggio trabalhou com o publicitário Marcos Valério, acusado por Jefferson de ser um dos operadores do "mensalão", juntamente com o tesoureiro do PT, Delúbio Doares. Na entrevista ela afirma que os dois mantinham relações estreitas e que o publicitário movimentava elevadas quantias em espécie.
À luz desses desdobramentos, por mais que o governismo pretenda amesquinhar as apurações, parece muito difícil impedir que durante o inquérito o caso dos Correios se encontre com o do "mensalão". Talvez por confiar em sua capacidade de controlar a situação no jogo miúdo da CPI, o governo reaja como se estivesse em outro planeta.
Ontem, o presidente do PT, José Genoino, preferiu insistir na fantasiosa versão de que tudo dito por Jefferson é falso e visa a atingir o PT e o governo. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu à cerimônia de lançamento da chamada "MP do bem" em companhia do ministro José Dirceu, cuja saída do cargo é alvo de insistentes rumores.
Em meio ao agravamento das denúncias, o presidente preferiu falar sobre política na área econômica, afirmando existir "gente que fica nervosa porque gostaria que as coisas não tivessem dado certo".
Reações desse tipo, em tudo dissociadas do clima de perplexidade que toma o país, não ajudam o governo a recobrar sua credibilidade. Ao contrário, transmitem a incômoda sensação de que ele se contrapõe de maneira temerosa e ensaiada a questões sobre as quais a sociedade espera respostas firmes e claras.
Entrevista:O Estado inteligente
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