Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 04, 2005

CLÓVIS ROSSI:Sobre desestabilização

SÃO PAULO - Já que alguns caciques do PT continuam com essa tolice de que "a direita" quer desestabilizar o governo, vamos a alguns fatos:
Fato 1 - Um grupo de empresários digamos desenvolvimentistas conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante os primeiros meses do seu governo, tentando convencê-lo de que embarcara num caminho sem saída e sem futuro com a política de juros altos. Sem futuro, esclareça-se, em termos de desenvolvimento sustentável.
Lula respondia-lhes que um economista de uma dessas gigantes do mercado financeiro lhe dissera justamente o contrário. Que era preciso conquistar a confiança dos mercados, especialmente os externos, que tudo o mais viria por gravidade (é uma estupidez, eu sei, mas tem gente que adora uma "enrolation").
Fato 2 - Teimoso, o grupo levou um dia, ao presidente (e ao ministro Antonio Palocci), um banqueiro, Fernão Bracher, que não é um fundamentalista. Disse ao presidente e ao ministro o mesmo que os empresários vinham dizendo.
"Palocci, responda a eles", transferiu Lula. Palocci, que não é exatamente Prêmio Nobel de Economia, limitou-se a dizer que era contra mudar a política econômica.
Deixou claro que o seu foco era, antes e acima de tudo, manter a confiança do mercado financeiro.
Voltemos agora à "desestabilização": Palocci de fato tem alguma razão. No mundo contemporâneo, só duas, digamos, entidades desestabilizam governos: a rua, como se vê na Bolívia e se viu na Argentina de De la Rúa, ou os mercados financeiros.
No Brasil, a rua não se mexe nem é levada em conta. E, além disso, estava majoritariamente com Lula. Portanto, cevar os mercados era uma opção -defensiva, mas opção.
A política econômica tem esse DNA. Pobre na origem, insustentável no médio prazo.
folha de s paulo

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