Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 01, 2005

CLÓVIS ROSSI:Insulto

SÃO PAULO - O que você pensaria se pagasse de juros POR DIA (sobre seu cartão de crédito, cheque especial, empréstimo bancário, o que fosse) mais do que investe POR ANO para melhorar sua vida? Não é preciso ser PhD por Harvard ou Oxford para desconfiar que alguma coisa está errada na sua contabilidade, na sua maneira de levar a vida, na sua, digamos, política econômica, certo?
Ainda mais que, se você se enquadra no perfil do leitor médio desta Folha, está na classe média, justamente aquela que mais sentiu o baque das duas décadas perdidas da economia tupiniquim. Logo, você PRECISA investir para melhorar de vida, certo? Bom, o governo brasileiro está na situação acima relatada: gasta por dia, de juros, mais do que investe em um país afogado em necessidades primárias.
O que choca não é só o fato em si, já de deixar qualquer um estupefato (há muito tempo não usava essa palavra; espero que o Cony aprove). É justamente não haver um estado de estupor coletivo, uma gritaria contra uma situação que supera os limites da mais pura insanidade.
Pior: não é um fato novo. Aqui mesmo, neste espaço, logo no início do governo Lula, critiquei o fato de o governo conseguir ser incompetente para gastar, uma raridade no setor público de qualquer país. Entende-se, embora não se justifique necessariamente, que um governo seja incompetente para poupar, ainda mais em um país tão cheio de carências e demandas como o Brasil.
Mas é incompreensível que, nesse mesmíssimo país, grávido de necessidades, o governo seja incompetente para gastar. Eu não concordo, mas sou capaz de entender que a gestão Lula economize 4,25% do PIB para pagar os juros.
Agora, economizar 7,26% do PIB para pagar juros, como está ocorrendo, é um insulto ao bom senso.
folha de s paulo

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