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Palocci na Casa Civil — preparando a sua candidatura à Presidência, com Lula anunciando que não disputa a reeleição — é a melhor saída. Por isso, talvez, não se opte por ela... |
Por Reinaldo Azevedo Fernando Pessoa dizia que "todas as cartas de amor são ridículas". As de renúncia também. Até quando carregam uma carga dramática infinitamente maior, como a de Getúlio Vargas. Aquele negócio de "sair da vida para entrar na história" apela a uma antítese patética. Até porque a história é muito mais madrasta do que a vida. E até me perderia aqui nas culpas de Getúlio não fossem outras urgências. A fala de Dirceu carrega na emoção e na grandiloqüência para tentar diminuir a fealdade do atual momento político. Não faltaram os clichês da honradez política — "cabeça erguida", "mãos limpas" — e também um certo tom de ameaça, que sempre fica muito bem ao agora só deputado José Dirceu: "Percorrer o Brasil para mobilizar o PT e o Brasil contra aqueles que querem interromper o processo democrático". Quem quer? Dirceu deveria dizer. Ou está prevaricando. Desestabiliza a democracia quem transforma um dos Poderes da República num balcão de negócios. As oposições, a exemplo do PT no passado, cumprem a sua obrigação: cobrar investigação. Primeira Leitura defendeu aqui, na terça-feira, a sua demissão. Aliás, deveria tê-lo feito já quando explodiu o caso Waldomiro Diniz. A demissão era inevitável, mas vem, ainda assim, num momento ruim. Roberto Jefferson está surgindo como o grande reformador de ministério do governo Lula. Desdobramentos Dirceu tentou emprestar um certo tom de ameaça à sua saída. Disse que vai mobilizar o país e o PT contra aqueles que investem na desestabilização. Trata-se, obviamente, de uma fantasia. Quem, neste momento, mais desestabilizava era o próprio Dirceu, tanto é que saiu. Não fosse assim, ficaria lá, mormente se, como diz, a cabeça está erguida e, sobretudo, "as mãos estão limpas". Lula vai, na verdade, fazendo a única coisa que lhe cabe fazer para tentar encerrar o mandato: despetizando o governo, buscando ampliar a sua base de apoio, distribuindo cargos aos demais partidos. Vai adiantar? Não sei. É uma tentativa. Uma coisa é certa: se Dirceu está pensando em criar no país um clima de abafa, mobilizando o petismo para intimidar CPI ou Legislativo, estará, uma vez mais, prestando um desserviço àquele que diz servir: Lula. Pior para o país, para ele e para o PT se escolher essa vereda. Beto Albuquerque, deputado do PSB que gosta de parecer mais petista do que José Genoino, concedeu entrevistas desafiando as oposições a falar "na cara" de Dirceu o que está sendo dito pelas costas. Pura bravata! Dirceu não assustou ninguém quando ministro, e, pois, bem mais poderoso, e não vai assustar agora. Cumpriria à base aliada dar uma baixada na bola e reconhecer que está no centro de um furacão. O governo sabe o desgaste que implica demitir Dirceu três dias depois de Jefferson "mandar". É um sinal óbvio de que a permanência implicaria um dano ainda maior. A demissão é um recado enviado ao cantor amador de ópera. Quem tem medo de Dirceu? Caro deputado, não há mal que o acometa que não tenha sido provocado pelos aliados preferenciais que o senhor escolheu e que não tenha origem na forma como o petismo decidiu construir a sua República — avessa, o senhor há de admitir, ao que se entende corriqueiramente como uma sociedade democrática. Entendimento geralmente classificado de "democracia burguesa", é verdade. Mas parece que a forma como o PT decidiu evoluir do que temos para as suas particulares noções de "socialismo" não estão sendo devidamente absorvidas pelas instituições. Ademais, é o caso de observar: Dirceu hoje enfrenta problemas nas suas próprias hostes. Roberto Jefferson, apurou Primeira Leitura, tem mantido conversas constantes com... petistas! Sim, isso mesmo. Há uma boa chance de que parte da tal "desestabilização" de que fala o ex-ministro esteja sendo provocada pelos seus aliados de partido. Quem vem para substituir? Se Palocci não for o nomeado, nada tem a ver com credibilidade dos mercados. Murilo Portugal tem mais credenciais do que o atual titular da Fazenda para combater o populismo fácil. Palocci é hoje a maior figura do partido depois de Lula (por enquanto...), tem trânsito razoável junto à oposição e é uma pessoa caroável, de fácil trato. De fato, nem tanto é sua indisposição para ceder a pedidos o que mais conta, mas o fato de que a maior rejeição a seu nome parte de setores do próprio petismo. A começar de Dirceu. Que não vai deixar de bombardear a política econômica na Câmara, ao lado, claro, de tentar limpar seu nome, o PT, o governo etc. Já que Lula reforma o ministério, deveria, pois, fazer a coisa certa e escolher Palocci. Márcio Thomaz Bastos, outra alternativa, também levaria a devida respeitabilidade. Mas tem pouco trânsito no petismo. Conhecendo a Polícia Federal como conhece, seria um bom nome para lidar com a base aliada. Mas aí também reside um problema. Num momento em que há várias frentes de investigação, teme-se uma PF fora do controle, vazando investigações por todos os poros. Assim, se Palocci, de fato, não aceitar o cálice, há uma boa chance de que alguém do segundo escalão das reputações petistas — num momento em que sobram bem poucas — assuma a Casa Civil. Bom, reitero aqui a minha sugestão: Palocci na Casa Civil, preparando a sua candidatura à Presidência, com Lula anunciando que não disputa a reeleição. É claro que não será feito assim. Até porque seria, dada a conjuntura, o melhor a fazer. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, junho 17, 2005
Clichês, ameaças e futuro
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