no mínimo
13.06.2005 | Desde a fundação, o time do PT sempre foi bom de ataque. Sobravam artilheiros de primeira linha, eram constantes as infiltrações na pequena área do adversário, sucediam-se jogadas de efeito ou malabarismos brasileiríssimos. Conquistada a vaga na divisão principal, não renunciou ao estilo agressivamente ofensivo adotado por Lula da Silva, técnico e também presidente do clube.
Nos primeiros torneios estrelados, mais perdeu que ganhou, mas o talento dos artilheiros abrandava qualquer derrota. Um gol belíssimo, uma firula notável, um drible desconcertante – algum deslumbramento esses craques não deixariam de registrar. Tanta ousadia muitas vezes impediu a conquista de taças e troféus. Mas era agradável ver o time em ação, e a torcida não parou de aumentar. Era a maior entre todas em 2002, quando o clube nascido em 1980 enfim venceu o campeonato nacional.
O Brasil não tardaria a constatar que o poder de fogo do ataque havia camuflado, ao longo dos anos, falhas perturbadoras. Seriam escancaradas nestes 29 meses em que a equipe, com a sede transferida para o Palácio do Planalto, vem ostentando no peito a faixa de campeão. Nesse período, tornou-se evidente – até para os gramados do Congresso – que só atacar não basta. O time do PT nunca soube jogar na defesa. É improvável que aprenda em pouco tempo.
Acuado, carece de serenidade para sair jogando e armar a contra-ofensiva. Marcado sob pressão, não consegue trocar passes tranqüilizadores. Um placar adverso perturba os melhores artilheiros: miram no gol e acertam o pau de escanteio. A equipe anda jogando como se os atletas tivessem sido apresentados, uns aos outros, enquanto mudavam de roupa no vestiário. Erram o alvo, espancam a bola, tropeçam na grama. É um time atarantado.
Tão atarantado quanto o técnico-presidente Lula da Silva, prisioneiro da esquizofrenia decorrente do acúmulo de funções. O técnico só sabe atacar. O presidente vive recomendando esquemas mais prudentes, além de contratações que apenas atendem a conveniências de equipe. É compreensível que Lula passe os 90 minutos à beira do campo berrando instruções confusas, às vezes desconexas. Ou mesmo mude de tática no meio do segundo tempo.
A maioria da torcida continua gostando de Lula. Gostaria mais ainda se melhorasse o time com mudanças corretas. Talvez retomasse a paixão dos velhos tempos se o técnico alterasse o próprio comportamento e definisse claramente o esquema de jogo, seja qual for. Hoje ninguém sabe direito o que deve fazer. E qualquer tática é melhor que nenhuma.
O bisonho desempenho da equipe implora por modificações ousadas, que permitam sonhar com a conquista do bicampeonato em 2006. Em setembro passado, o técnico prometeu uma abrangente reformulação do elenco. Parou na segunda substituição (aparentemente sugerida pelo presidente), que transformou em titular Romero Jucá, cujo prontuário é maior que o cartel.
O técnico fingiu não ter notado o tremendo gol contra. No seu time, alega, todo mundo é craque até prova em contrário. As provas estão nas performances de Jucá, especialista em bolas divididas e acrobacias que merecem cartão vermelho. Mas continua titular, sem que os companheiros se queixem.
"O grupo está unido", costumam declamar boleiros em momentos de crise. Somos parceiros, repete Lula, e a parceiros a mão do chefe deve estar sempre estendida. Foi assim com Roberto Jefferson, dublê de goleiro amalucado e centroavante trombador. A contratação fora recomendada pelo presidente, que ofereceu em caução um cheque em branco. Mesmo depois da grave lesão causada pela jogada no campo dos Correios, não foi dispensado pelo técnico.
Lula escalou-o como goleiro, e mandou que o time inteiro protegesse a zona do agrião, fustigada por perigosos cruzamentos. No meio da partida, Jefferson resolveu sair do jogo e do time. Foi um estrondoso adeus. Com petardos certeiros, estilhaçou janelas da sede. Reduziu a escombros salas reservadas a negociações conduzidas pela cartolagem avessa à claridade. E atingiu no peito o supercartola Delúbio Soares, tesoureiro do clube e responsável pela distribuição de mesadas e "bichos".
Exagerou na dose de despedida. Até o presidente achou aquilo uma demasia. E o técnico foi liberado para o contra-ataque. Começou com a dispensa de jogadores reservas que nem chegaram a ser testados: aguardavam chances concentrados nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil. Vejamos o que Lula fará com o time titular.
Fiquemos de olho, por exemplo, em Romero Jucá. Se a saída de Jucá não for consumada, o técnico é que ficará arriscado a cair.
Entrevista:O Estado inteligente
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