"Ou o presidente sabia de tudo
(e foi conivente), ou não sabia
de nada (e foi inepto). A situação
é tão lamentável que há uma torcida
para que o presidente seja um inepto"
O presidente Lula até pode superar a crise atual e, quem sabe, reeleger-se para um segundo mandato. Mas é hipocrisia esconder que foi definitivamente alvejado pelos estilhaços do escândalo – e no coração. Do labirinto em que foi jogado pelo mensalão, Lula tem só duas saídas, e nenhuma delas é boa. Ou o presidente sabia de tudo (e foi conivente) ou não sabia de nada (e foi inepto). Não há uma terceira alternativa. A situação é tão lamentável, mas tão lamentável, que existe uma torcida silenciosa para que a verdade esteja na segunda hipótese. Ou seja: torce-se para que o presidente seja um inepto, apenas isso...
É melancólico, mas a outra hipótese é ainda pior. Se a verdade estiver na primeira alternativa, a de que Lula foi conivente, o desdobramento inevitável é a instalação de um processo de impeachment por prevaricação, crime no qual uma autoridade incorre quando deixa de fazer o que a lei manda que faça – no caso, investigar.
É melancólico porque, tendo sido apenas inepto, então Lula pode permanecer presidente da República. Um presidente da República que ignora o que acontece no núcleo de seu governo. Que desconhece o que seus principais auxiliares andam fazendo. Que vive alheio ao que se passa à sua volta. Mas, ainda assim, um presidente da República.
É melancólico porque, a esta altura, só farsantes são capazes de sustentar que não existia mensalão ou que jamais ouviram falar dele. E só quem faz da estupidez uma profissão de fé é capaz de acreditar, a esta altura, que o tremendo inchaço das bancadas de PL, PTB e PP se deu à base do convencimento político e ideológico.
É melancólico porque o Lula de hoje é o José Dirceu de ontem. Quando veio a público o caso de Waldomiro Diniz, José Dirceu levou um tiro no peito e, dali em diante, jamais remontaria sua autoridade porque ficou patente que – na melhor das hipóteses – fora incompetente ao não saber o que fazia nem quem era o assessor de sua plena confiança. Hoje, Lula está numa situação parecida. Na melhor das hipóteses.
É melancólico porque há um visível esforço coletivo para acreditar na versão presidencial – a de que foi informado do mensalão, mandou investigar, mas, sabendo que o caso fora arquivado numa sindicância da Câmara, deu-se por satisfeito. Algo não faz sentido. Roberto Jefferson, no embalo de inocentar o presidente, diz que ele ficou chocado quando soube do mensalão. Reagiu como quem é traído, como quem leva uma facada nas costas, como quem – nas palavras de Jefferson – flagra a esposa com outro. É curioso que o presidente, depois de receber notícia tão inédita e tão dramática, se tenha dado por satisfeito com tão pouco.
É melancólico porque, em trinta meses de governo, Lula apequenou sua figura pública, cuja nobre dimensão fazia tão bem ao país e, sobretudo, às camadas mais populares – que podiam ver em sua ascensão a possibilidade real de furar o hermético bloqueio político e social imposto aos de origem mais humilde.
É melancólico ver esse gigante da história brasileira agora apenas oscilando entre a espantosa hipótese de ter sido conivente e a mediocridade de ser inepto.
É melancólico.
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