Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 12, 2005

ADEUS ÀS ILUSÕES FOLHA DE S PAULO EDITORIAL

 A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se revelando um dos maiores estelionatos eleitorais da história democrática do país. Todas as bandeiras que um dia caracterizaram o Partido dos Trabalhadores foram conspurcadas. Até mesmo o que se afigurava como o último baluarte petista, uma relação diferenciada com a ética e a coisa pública, se reveste de tons de "bravata", para utilizar um termo empregado pelo próprio presidente da República ao renegar propostas antes defendidas pelo seu partido.
É bem verdade que muito do que o PT esqueceu foi para o bem do Brasil. Não é preciso tanta imaginação para perceber o desastre que teria sido se, no poder, Lula e os seus continuassem defendendo sandices como a moratória da dívida externa. O compromisso com uma gestão econômica responsável foi fixado pouco antes da eleição do presidente, na "Carta ao Povo Brasileiro".
Ao renunciar às rupturas, porém, não consta que o PT tivesse se apresentado como avalista de uma política econômica tão conservadora, na qual os interesses da produção e do emprego continuariam subordinados à lógica financista _que mesmo alguns quadros do PSDB criticavam.
As opções econômicas aliadas ao despreparo e à inépcia administrativa do partido o impediram de avançar na frente social. Era presumível que uma legenda forjada em duas décadas de oposição _e que reunia em seus quadros importantes nomes das mais diversas áreas_ tivesse projetos sólidos para a educação, a saúde e a segurança.
Verificou-se, porém, que o Partido dos Trabalhadores não apenas chegou ao Planalto sem um plano de governo como lhe faltava a aptidão para gerenciar programas que já existiam.
Em termos sociológicos, a ausência de projeto ajuda a explicar a crise da legenda. Sem uma utopia à qual aspirar, o poder pelo poder transformou-se em razão de existência. Muitos de seus expoentes mostraram-se deslumbrados com as mordomias, benesses e oportunidades de ascensão social oferecidas pela nova situação. Não por acaso, um adversário veio a classificar jocosamente o PT como o "partido da boquinha".
A partir de um dado momento, só o que importava passou a ser a "governabilidade" e a reeleição de Lula. Foi nesse contexto que veio o golpe devastador contra a imagem do partido, e justamente no campo da ética, a faceta mais característica do petismo. Com efeito, mesmo quem discordava radicalmente do antigo PT aprendeu a respeitar os padrões éticos da agremiação.
Também isso, porém, foi se revelando ilusório. Ao conquistar prefeituras, o PT já emitira sinais de que seu perfil ético sofria mudanças, moldando-se demasiado ao "realismo" das negociações com o Legislativo e prestadores de serviços. Galgado ao comando do país, o partido enredou-se na trama do fisiologismo e da corrupção. Suas virtudes transmutaram-se em vícios. O despreparo, a ambição e o oportunismo derrotaram a esperança.

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