Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 12, 2005

VALDO CRUZ:Nivelou geral

FOLHA DE S PAULO  BRASÍLIA - A avalanche de denúncias de corrupção no mundo político levou um deputado a tomar uma precaução. Antes de embarcar no avião ao retornar à sua cidade, ele tira o broche da lapela que o identifica como parlamentar. Motivo: "Tenho medo de ser vaiado".
O comentário do deputado, um ex-ministro, reflete o clima de descrédito no país em relação à classe política diante do cenário de mar de lama que tomou conta de Brasília.
Essa onda levará a, pelo menos, dois processos depurativos: o primeiro virá com as investigações dos Correios, podendo resultar na cassação de mandato de alguns deputados e até na demissão de ministros.
Depois, viria a segunda etapa de depuração, nas eleições do ano que vem. Desacreditado, o mundo político já começa a projetar um elevado índice de renovação da Câmara dos Deputados em 2006.
Nas últimas eleições, pouco mais da metade dos deputados conseguiu se reeleger. Agora, há quem acredite que muito mais gente será mandada de volta para casa pelo eleitor.
Esse efeito depurativo não atingiria apenas os partidos do baixo clero, como PP, PTB e PL, enroscados no escândalo da "mesada". O PT, partido do presidente Lula, corre um risco ainda maior: encolher.
Hoje, os petistas têm 91 deputados e 13 senadores. Antes do terremoto do mensalão, a cúpula do partido apostava em crescimento. Petistas lunáticos falavam em 120 deputados. Agora, repetir o resultado de 2002 será um verdadeiro milagre.
Afinal, colou no PT a imagem de que é um partido igual aos demais. Deixou de ser uma referência em termos de ética. Tá tudo nivelado.
Confirmado um encolhimento petista, Lula pode até se reeleger -continua forte candidato-, mas sua situação no Congresso vai piorar. Terá ainda menos aliados, sendo obrigado a acentuar sua busca de alianças.
Pensando bem, talvez seja a salvação de Lula. Dependeria cada vez menos do seu PT, hoje sua grande dor de cabeça.

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