Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 05, 2005

Dora Kramer: PSDB apresenta suas credenciais

Os piores temores dos petistas em relação ao ato de comemoração dos cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal acabaram não se confirmando, e o PSDB não patrocinou, como receava o Governo, um festival de discursos de acusações e ataques àqueles que votaram contra a aprovação da lei, em 2000, e ainda recorreram contra ela ao Supremo Tribunal Federal.

A moderação política dos tucanos ocupantes de cargos executivos e a desenvoltura eleitoral do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contiveram, porém, um caráter político-eleitoral mais denso que os desaforos esperados.

O PSDB elaborou uma festa conceitual, buscando ressaltar um estilo e marcar nítidas diferenças em relação ao Governo Luiz Inácio da Silva.

A óbvia intenção foi a de apresentar ao público pagante as credenciais com as quais pretende postular ao eleitorado a retomada do poder e começar a construir as imagens e os argumentos que farão do candidato tucano um anti-Lula, com vistas a capitalizar insatisfações.

Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin apresentaram-se em figurinos de sobriedade total: nem uma palavra a respeito de eleições, críticas só em tom levíssimo, linguagem absolutamente administrativa, quase técnica. De dar sono, sejamos sinceros, os pronunciamentos de suas excelências.

Ao ponto de tanto comedimento despertar alguma inquietação na platéia, que ali compareceu evidentemente para bater uma continência partidária – para isso estavam lá, além dos tucanos, representantes do PFL, PP e PPS –, mas, sobretudo, para assistir a um ato político-eleitoral com a participação de todos os principais cotados para oponente de Lula em 2006.

Quando Fernando Henrique Cardoso tomou a palavra já fazendo frase de efeito – "estamos aqui numa hora da saudade, mas devemos sentir a comichão do futuro" –, falando em diferenças de conduta, marcas nítidas de condução, como a gestão responsável, aí ficou claro que se tratava de um roteiro bem pensado e perfeitamente executado.

Posando de vestais aplicadas nas respectivas administrações e eleitoralmente desinteressadas, os governadores e o prefeito (todos eles pré-candidatos) mostravam-se em contraste com o PT cujos governantes – com destaque para o presidente e seus ministros – fazem campanha eleitoral em tempo integral.

Exibindo-se em estado de desembaraço político total, até por não ocupar cargo algum, Fernando Henrique Cardoso cumpriu o papel de comandante-em-chefe da tropa oposicionista – incluindo aí soldados pertencentes a outros batalhões, como César Maia e Anthony Garotinho – que desempenhará no processo de sucessão.

Pela primeira vez foi enfático na crítica aos juros altos, argumentando que, ao contrário do Governo dele, o atual dispõe de situação externa favorável e apontou a possibilidade de a oposição apresentar uma proposta: "Hoje, não tenho a resposta, mas para a inflação também não tinha, mas chamei pessoas e fizemos o Plano Real. Podemos fazer o mesmo com os juros".

Ou seja, enquanto o PSDB não escolhe o candidato, FH vai vocalizando a plataforma eleitoral. O outro ponto programático antecipado por ele foi a reforma política à defesa da qual emprestou uma ênfase inédita. Quando era presidente, dizia que essa reforma política era "assunto do Congresso".

Agora, o ex-presidente acha que, juntamente com a falta de segurança pública (outro ponto fraco de seu Governo), a crise de representação traduzida no distanciamento entre eleitos e eleitorado é um fator de deterioração da democracia.

Das palavras de Fernando Henrique foi possível depreender a intenção de propor à Nação um plebiscito, ou referendo, sobre as mudanças no sistema político-partidário eleitoral. "Acho que o próximo presidente deve perguntar diretamente à população o que ela pensa dessa insensibilidade na relação entre representantes e representados", disse.

Plataforma e perfil de candidatura delineados, FH lançou um lema – "encontrar um novo caminho" – e um slogan de campanha – "recordar e avançar" –, completando o serviço preparado para o dia do aniversário de cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma saia-justa para o PT tão grande quanto o Plano Real.

Estão postas, portanto, as primeiras armas do embate de 2006.

Garoto travesso

Há tucanos – ontem viu-se muito disso na solenidade de comemoração da LRF – bastante preocupados com a performance eleitoral do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Por isso, já se arrefece o entusiasmo em torno da candidatura dele pelo PMDB como fator de dificuldade para a reeleição de Lula.

Cresce no PSDB a sensação de que, num descuido, pode ser Garotinho e não o candidato tucano a disputar a final no segundo turno com o presidente Lula.

Por enquanto, não se pretende fazer nada, é só uma constatação. Baseada também em várias pesquisas que o tucanato vem realizando nos estados. Nas simulações em médios e pequenos municípios, só o prefeito José Serra tem aparecido como páreo a Lula. Às vezes ganhando, na maioria perdendo, mas fica ali, encostado.

Quando o nome de Serra sai da pesquisa, em geral, o segundo lugar é ocupado por Garotinho.

O DIA

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