Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, maio 26, 2005
Guilherme Fiuza: Garotinho é inocente
25.05.2005 | Há hoje no Rio de Janeiro, com reflexos no cenário nacional, um sentimento de orgulho ético: "Pegamos os impostores". A condenação do casal Rosinha e Garotinho por fisiologismo (troca de favores por votos), que os torna inelegíveis por três anos, tem espalhado uma sensação de "vitória da cidadania" e arroubos retóricos do gênero. Dramático é observar que a reação veio com sete anos de atraso, e que não há nem sinal de anticorpos no eleitorado para o surgimento dos novos "garotinhos".
Pegaram Garotinho distribuindo uns trocados e migalhas sociais a quem votasse no candidato dele em Campos. Muito bem. O curioso é que o ex-governador já tinha sido pego, três anos antes, fraudando as contas do estado do Rio de Janeiro. Calote em dívidas com a União, contratação de empréstimos sem ter capacidade de pagá-los, produção de um déficit triplo (orçamentário, financeiro e de caixa) de cerca de R$ 2 bilhões cada um, ferindo o primeiro artigo da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mais curioso ainda é que boa parte dessas irregularidades, constatadas e divulgadas pelo Tribunal de Contas, já freqüentavam as manchetes quando o Rio elegeu, em primeiro turno, a governadora Rosinha. "Ah, foi o interior atrasado", "foram os grotões", "foi a ralé que decidiu essa eleição", tentaram explicar. Mentira. Se a capital esclarecida – essa que querem separar do estado – não ajuda, não é possível uma eleição consagradora em primeiro turno.
As bandalhas desse grupo político, enfim, estão aí há muito tempo, e os Garotinhos não hipnotizaram ninguém para chegar ao poder e se perpetuar nele. Esta culpa o casal populista não pode levar. Depois de sufragados duas vezes seguidas – pelos ignorantes e pelos esclarecidos – ainda conseguiram enterrar, à luz do dia, o relatório que incriminava o ex-governador por delito fiscal (um sepultamento com ajuda de muita gente boa, ou considerada boa).
Eis a ressaca: a sociedade comemora a condenação de Garotinho por fraudar uma eleição em Campos, depois de permitir que ele esculhambasse as finanças do estado inteiro.
Desde o seu início, é intrigante o apoio que o fenômeno Garotinho consegue junto às "pessoas de bem". Antes mesmo de sua eleição para governador em 1998, um exame superficial de sua trajetória política já deixava claro o populismo rasteiro. Um mistificador, uma estrela do sub-brizolismo, que declarava patrimônio quase nulo e aparecia em gravações telefônicas negociando compra de emissoras de rádio. No mínimo, alguém que merecia um voto de desconfiança (isto é, um não-voto).
Mas a sociedade "progressista" não quis nem saber, teve a certeza de que ali estava o novo representante da esquerda contra os poderosos, corruptos e autoritários. "O Garotinho vai virar governador!", cantava Beth Carvalho, embalando um rio de votos, projetos, apoio político e boas intenções despejados no colo do jovem Anthony. Como diria Cazuza, há sonhos que são vendidos muito barato.
Acordar tão tarde para um equívoco desse tamanho é grave, mas é melhor do que continuar dormindo. O problema é que não adianta nada fechar a porta para um Garotinho, sem aprender a identificar o surgimento de outro. E há vários se formando no horizonte. Não necessariamente no sentido da escola evangélico-populista, mas no sentido de serem entendidos como uma coisa, e significarem outra.
O trauma com o estilo cínico e enrolador do casal Garotinho tem favorecido, por exemplo, a imagem de Wladimir Palmeira, pré-candidato do PT ao governo do Rio. Chega de mistificação, é hora de um político sincero, transparente em suas convicções, intransigente em seus princípios, andam dizendo algumas vozes cultas. Não há dúvidas quanto à sinceridade e à coerência de Wladimir. Já a intransigência, não pode ser restrita aos princípios. E lá vai o eleitor embarcando, sem se dar conta, num projeto eventualmente intolerante, possivelmente autoritário e provavelmente anacrônico.
Há vários outros "Garotinhos" por aí, em gestação no imaginário da opinião pública. Um bem conhecido, e que anda planejando transferir seu domicílio eleitoral para o Rio, é Ciro Gomes – cujo projeto político atende rigorosamente pelo mesmo nome: Ciro Gomes. Um homem inteligente e bastante preparado, capaz de causar furor em qualquer reunião "progressista" daquelas que se realizavam no finado Teatro Casa Grande – desde que consiga atravessar o debate sem chamar ninguém de otário ou imbecil. A medida de sua lealdade política e intelectual costuma ser a sua vontade de poder, mas isto não é coisa que um eleitor de Rosinha perceba.
E há também as "novidades" que correm por fora, como o acadêmico Roberto Mangabeira Unger. Ex-candidato a eminência parda de Brizola e do próprio Ciro Gomes, ele decretou um "chega de intermediários" e resolveu lançar a si mesmo. A que está se lançando, ainda não deu para saber, mas pouca coisa não deve ser. Há um manifesto circulando por aí, no qual Mangabeira Unger explica que passou a vida estudando os problemas brasileiros e encontrou soluções para eles. Mas sempre esbarrou no personalismo dos políticos aos quais se associou (o que deve ter sido mera coincidência), e suas idéias acabaram sendo deixadas de lado.
Mangabeira explica que não é político, não tem carisma, é feio e manca. Por isso, é o único candidato sem marketing, e quer o seu apoio puro, apenas pela afinidade de pensamento que existe entre você e ele. Enquanto Garotinho cai em desgraça e o Messias não chega, Mangabeira Unger tem grandes chances com o eleitor brasileiro – e o carioca em particular. Aliás, Caetano Veloso já manifestou seu apoio.
E depois desta próxima eleição, que Pelé não repita aquela história de que brasileiro não sabe votar. Corre o risco de acabar eleito filósofo do século.
no mínimo
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