Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 22, 2005

Dora Kramer:No admirável mundo da lua

  Autoconfiança é uma coisa. Além de um bom atributo, é indispensável ao exercício da liderança. Devaneio é outra completamente diferente. Dá plantão na ante-sala do equívoco e subtrai do comandante a objetividade necessária ao cumprimento de suas funções.

A bem do bom andamento dos trabalhos nacionais, queira o bom senso que o presidente Luiz Inácio da Silva esteja apenas pretendendo aplacar aflições, serenar os ânimos, transmitir segurança e denotar capacidade de controle quando se diz inteiramente despreocupado com a iminência de enfrentar sua primeira CPI na condição de vidraça.

Ainda assim, a ironia – "olhem para a minha cara e vejam se estou preocupado" – não é a melhor maneira de o presidente da República se comunicar com a Nação. Principalmente num momento em que tantos e tão evidentes problemas políticos pediriam uma abordagem sóbria, franca e consistente.

O quadro não autoriza brincadeiras, e a situação não diz respeito ao exclusivo e quase sempre distante mundo da corte brasiliense. É possível que Lula imagine ainda transitar em céu de brigadeiro e que a conjuntura de nervos extremamente alterados desperte o interesse só de meia dúzia, toda ela composta por políticos adversários, jornalistas implicantes e gente despeitada, inconformada com o sucesso de seu governo.

O povo que conta mesmo, vota e sustenta índices de popularidade nas pesquisas, por essa visão estaria pouco se importando com as ocorrências da política, estejam elas referidas em altas articulações ou em baixas transações.

No mundo real, as coisas estão bastante mais complicadas, e as demonstrações de desconexão da realidade dadas pelo presidente não ajudam a organizar o cenário; mantêm o País desinformado sobre a razão de tanto desacerto, inseguro quanto ao depois de amanhã, certo apenas de que falta rumo.

Não vamos longe na recuperação de episódios ilustrativos da distância em que Lula se põe dos fatos. Podemos até deixar de lado a CPI que, aliás, não é a questão de fundo. Trata-se antes de uma conseqüência, entre muitas.

Tomemos um tema em tese fora da política, o meio ambiente. Sexta-feira, ainda no quente da divulgação sobre os novos dados indicando aumento do desmatamento no Brasil, o presidente abordou o assunto não com a objetividade devida, mas em tom de total nonsense.

A propósito de defender a ministra Marina Silva e a política ambiental pelo Governo adotada, Lula disse o seguinte: "Ela (Marina) tem sido a própria cara do que nós estamos tentando imprimir no nosso país. Quando a gente fala em preservação ambiental, em meio ambiente, biodiversidade, ecossistema, a gente não tem que olhar outra coisa a não ser para a cara da nossa ministra, porque ela representa exatamente a síntese daquilo que as melhores almas do mundo fazem em busca da proteção do planeta".

Aqui também em estado de despreocupação, desta vez com o conteúdo, Lula não defendeu a ministra nem a política ambiental. Não deu atenção à realidade, pronunciou frases desprovidas de sustentação factual e, com isso, continuamos sem saber o motivo do aumento da devastação, o que pensa o presidente a respeito do assunto e quais as providências cabíveis a serem tomadas.

Enquanto isso, de que tarefa se ocupa o partido do poder, dono de 18 ministérios?

Da discussão sobre a punição ao deputado Virgílio Guimarães, que neste fim de semana teria sua suspensão ou expulsão debatida pelo Diretório Nacional do PT, por causa da candidatura dele à Presidência da Câmara.

À indisciplina é atribuída a razão de todos os males do Governo na política, pois teria, nessa ótica, motivado a divisão e a dispersão dos partidos aliados.

Trata-se, é óbvio, de uma manifestação fantasiosa de auto-referência em acentuado grau. Desse grave mal, e não das ações de Virgílio Guimarães, padecem o Governo e o PT. Ignoram as circunstâncias, menosprezam as evidências, subestimam as conseqüências, acham que tudo se resolve pela lógica do partido dispensando tudo o mais.

Pobres poderes

O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, deu importante contribuição para o espetáculo do desvario em massa ora em cartaz, ao reivindicar na sexta-feira da ministra das Minas e Energia – um destaque no quesito seriedade, diga-se – a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras para um protegido político.

Recusou outro cargo oferecido (por obrigação funcional) pela ministra porque, segundo ele, Lula prometeu a "a diretoria que fura poço e acha petróleo".

Do alto da credibilidade conferida pelos termos usados no trato do patrimônio público, Severino Cavalcanti presta-se a ajudar o Governo a combater a CPI dos Correios ameaçando instalar a CPI do setor elétrico para investigar o processo de privatizações e atingir o Governo anterior.

A oposição – que acha muita graça e acredita também servir-se dos préstimos do presidente da Câmara quando, no intervalo entre uma labuta e outra em busca de boquinhas, ele cria problemas ao Governo – fica na obrigação de aceitar.

o dia

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