Pode ser apenas uma sensação enganosa de euforia trazida pela conjugação de sucessivos acontecimentos ruins para o governo com boas tendências reveladas por pesquisas de opinião, mas o fato é que a alta direção do PSDB saiu da reunião de ontem em Minas com a impressão de que a eleição de 2006 não vai ser igual à que passou, quando "deu tudo errado para nós e tudo certo para o Lula", na definição de um tucano de bico afiado. Até onde a vista alcança, o governador de São Paulo é o candidato a ser lançado, mas o governador de Minas Aécio Neves continua de prontidão para o caso de acontecer até o começo do ano alguma coisa que a vista hoje não consegue alcançar.
Tanto um quanto o outro têm o domínio eleitoral de seus respectivos territórios, com levantamentos mostrando, na definição tucana, que dão "uma surra" em Lula tanto em São Paulo quanto em Minas, os dois maiores mercados eleitorais do país. É bem verdade que, no que interessa, ambos perdem nacionalmente para o presidente, que tem hoje mais que o dobro das intenções de votos que o governador paulista, e quase o triplo em relação ao governador de Minas. Mas eles inferem das pesquisas que o potencial de crescimento do PSDB é grande, enquanto a probabilidade de queda de Lula é crescente, especialmente quando analisam pesquisas qualitativas que mostrariam uma tendência do eleitorado.
O governador Geraldo Alckmin está um pouco melhor na disputa, além de ter a Prefeitura de São Paulo para apoiá-lo com José Serra, e o domínio eleitoral do território paulista, o maior colégio eleitoral do país, fundamental para qualquer candidatura. Tanto que a pressão para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso venha a disputar o governo do estado está arrefecendo, pois tudo indica que não será necessária uma candidatura de peso para que Alckmin vença a disputa com Lula em São Paulo.
A situação do PT paulista seria de tamanha fragilidade, ou o favoritismo do PSDB tão grande, que os tucanos já consideram possível disputar — e quem sabe vencer — até mesmo o governo do estado sem importar o nome do candidato, apenas com o apoio dos três caciques paulistas: Fernando Henrique, Serra e Alckmin.
Havia quem achasse que os tucanos deveriam definir logo um nome, porque Cesar Maia, candidato do PFL já lançado, poderia crescer. Mas as pesquisas tucanas indicam que ele teria estacionado num patamar entre 7 a 9 %, embora tenha um índice de conhecimento nacional muito maior do que os dois potenciais candidatos do PSDB, e perde para os dois: Alckmin aparece com 14%; e Aécio com 10% das intenções de votos. Os tucanos contam com que, se até o início do próximo, a situação permanecer a mesma, o PFL aceitará se unir a eles já no primeiro turno.
A grande incógnita da corrida presidencial é o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que aparece nas pesquisas com cerca de 15% das intenções e já é considerado pelos tucanos como o candidato do PMDB. Mas tanto Garotinho quanto Cesar Maia ainda perdem para o Lula no Rio, embora Lula esteja em um patamar de 30%, muito longe dos quase 80% de votos que conseguiu na capital no segundo turno da eleição de 2002.
Toda avaliação — e também torcida — dos tucanos é de que dificilmente Garotinho deixará de ser candidato, pois o PMDB estaria cada vez mais agastado com o governo e com a CPI a situação tende a piorar, porque há uma briga interna entre o PMDB e o PTB nos Correios. O PSDB tem indicações de que quem está controlando hoje politicamente o PMDB já é o grupo de Garotinho, e chegaram a avaliar a possibilidade de que essa torcida acabasse revertendo contra eles, com a chance de um eventual segundo turno se travar entre Lula e Garotinho.
Esse perigo teórico existe, admitem os tucanos, mas não é provável que aconteça porque ele teria uma faixa limitada de apoio, com um nível de conhecimento muito grande do eleitorado, tudo indicando que sua capacidade de subir nas pesquisas é restrita. Mas a capilaridade do PMDB pelo país — foi o partido que elegeu mais vereadores nas eleições municipais — pode ter um efeito multiplicador dessa penetração. Desde que, evidentemente, o PMDB não o cristianize como fez com políticos de muito maior peso, como Ulysses Guimarães e Orestes Quércia.
As pesquisas, mesmo realizadas antes da crise dos Correios, indicam que Lula está se desgastando muito, embora continue descolado da avaliação de seu governo, que aparece mais desgastado ainda. Mas, segundo a avaliação do PSDB, já surgem espaços para serem explorados na percepção da opinião pública, pois estaria começando a se disseminar a idéia de que ele não sabe mandar, de que não controla seus subordinados, de que não é corrupto, mas não sabe controlar a corrupção, não sabe escolher ministro, é gente boa, mas não funciona.
É bem verdade que esse sentimento está muito concentrado no Sul e Sudeste do país, e que a imagem do presidente continua boa no Norte e Nordeste. O PSDB aposta, no entanto, que a situação daqui para frente só vai piorar, e o que dá a sustentação atual são as ações clientelistas tipo Bolsa Família.
Mesmo assim, embora nessas regiões os governadores sejam mais dependentes e não se confrontem com o governo federal, na hora da campanha os tucanos acreditam que, definidas as coligações, haverá a confrontação. Os líderes políticas do Norte-Nordeste, que em sua maioria apoiaram Lula em 2002, já teriam abandonado o PT, inclusive o senador José Sarney, agastado com a não nomeação de sua filha Roseana para o prometido ministério. Além do mais, ela será candidata ao governo e vai disputar com o PT do Maranhão.
o globo
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