O deputado Severino Cavalcanti, pernambucano pela graça de Deus e presidente da Câmara, segundo alguns, por artes do demo, quer dar a um apadrinhado não identificado a mais rica diretoria da Petrobras, a "que fura poços e acha petróleo".
Por que não? O presidente Lula lhe ofereceu uma, não identificada, durante a recente viagem a Roma — o que, pelo sim, pelo não, faz todo o corpo técnico da empresa rezar por longa vida para o Papa Bento XVI — e Severino naturalmente deseja do bolo a mais grossa fatia.
A formulação da exigência não deixa dúvidas sobre o que o presidente da Câmara pretende fazer com o mimo oferecido: ele não pede a área mais adequada a uma suposta qualificação técnica de seu até agora desconhecido afilhado, mas simplesmente a mais rica. Da escola política espontânea — esperto eufemismo, não? — a que pertence Severino, seria ingenuidade esperar outra coisa.
Sempre se pode torcer para que ele tire do bolso o nome de um craque em furar-poços-e-achar-petróleo, fazendo a ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, corar de vergonha pela falta de fé no espírito público do deputado. Não é, infelizmente, o que faz supor a imagem do deputado.
Ele é o que é: um político à moda antiga, cem por cento fisiológico, zero por cento ideológico. Tem raízes na República Velha. E sobreviveu desconhecido no fundo do plenário da Câmara até que a extraordinária inabilidade da bancada oficial lhe permitisse chegar ao centro do palco.
Estava nas regras do jogo que o governo fizesse o necessário para conseguir que jogasse no seu time o craque inesperado. Mas era óbvio que Severino entraria em campo com o mesmo apetite com que o PT chegou ao poder. (O partido tem hoje 64,9% dos principais cargos federais, embora tenha menos de 30% dos deputados que formam a bancada governista.) Oferecer uma diretoria da Petrobras ao líder do que antigamente se chamava de baixo clero é um estimulador de apetite, não um inibidor. Muito bem que, em nome da governabilidade, o governo faça o necessário para conseguir o apoio do presidente da Câmara. Mas podia — e deveria — sair mais barato.
Severino não é político, digamos assim, de formação sofisticada. Outro dia, escreveu para O GLOBO um artigo supostamente sobre a reforma política. Já seria traição a sua natureza e suas raízes ser a favor da reforma, que, a ser feita como necessário, terá entre seus efeitos uma redução no poder e na importância de políticos de sua formação. Severino fez uma opção curiosa: definiu como reforma política importante o fim da orgia de medidas provisórias. Tem inteira razão quanto à orgia. Mas é curioso que ele não tenha percebido que acabar com ela seria mexer no processo legislativo: nada tem a ver com a reforma política, que trata da estrutura partidária.
Há na vida pública espaço para cerebrais e instintivos. Mas um instintivo cem por cento na presidência da Câmara dos Deputados pode ser — a menos que se saiba controlá-lo — experiência traumática demais para estes tempos difíceis, que podem ficar mais difíceis a qualquer momento.
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
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