Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 31, 2005

JANIO DE FREITAS:Temor inútil

 O presidente da República está no Brasil. Não se sabe por quanto tempo, de modo que é conveniente não perder a oportunidade e fazer logo uma breve passagem de olhos no governo.
Se não considerarmos os ministérios das Relações Exteriores, da Justiça e alguns setores da Saúde, só se pode constatar que o governo está parado há meses, com os restantes ministérios, sobretudo os das ações de investimento, levando a vidinha mansa do que se há de fazer.
O da Indústria, sem política industrial, até que se mexe como um vendedor, mas o êxito das exportações se explica melhor pelo momento de intensa animação do mercado importador no mundo todo. Como em tantos outros períodos. Já o outro vendedor, o maníaco da soja, dito da Agricultura, só faz contar as perdas de safra e de dólares.
Além dos citados, há uns 30 ministérios. Sem que isso signifique que haja mais governo. Exceto, para fazer justiça, no da Cultura, com um ministro que podemos ver, pela TV, em atividade incessante. Com seus shows para as platéias do mundo.
Da explosão demográfica que é o enxame de petistas dentro e à volta da Presidência da República, não sai uma iniciativa, uma ideiazinha nova. Sai apenas dinheiro grosso, para alimentar aquela massa improdutiva e para gastos de propaganda, cujo único proveito só pode ser visto nos balanços de certas agências de publicidade.
O presidente, certo, anda muito ocupado, com sua predileção pelo exterior, em procurar compradores externos para produtos brasileiros. Efeito, sem dúvida, de não haver ainda percebido a diferença entre ser empresário e ser presidente da República.
Como a área de ação política prega a absoluta unidade dos governistas, não age mais nem melhor do que seus colegas de governo. Como conseqüência, paralisa a Câmara, que nada faz, do tanto que deve, desde o ano passado, pelo menos. O Senado quebra o galho das aparências, graças ao melhor QI de um pequeno grupo. Mas, sem a Câmara, não chega a convencer da existência de um Legislativo, como recomendou a Constituição. Mesmo porque um país em que a legislação é feita por medidas provisórias, lançadas a granel pela Presidência da República, o verdadeiro Legislativo é o Executivo. E o denominado Legislativo é uma casa de muitos empregos, sem obrigação de trabalho e nem sequer de comparecimento, e outras e incontáveis benesses.
Lula, José Dirceu, Aloizio Mercadante temem que a oposição "use a CPI para desestabilizar o governo". O temor não se justifica. O governo já se desestabilizou por conta própria.

Parceiros
Lula tinha uma entrevista agendada para sua chegada ao Brasil. Cancelou-a, simplesmente, sem explicação. Desnecessária, aliás. Todos sabemos que ao contato com jornalistas perguntadores, ligeiro embora, Lula prefere o convívio com os Robertos Jeffersons.
folha de s paulo

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