Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, maio 26, 2005
Merval Pereira :Vôos tucanos (2)
As pesquisas que foram analisadas na reunião do PSDB em Minas guardam entre si desequilíbrios que somente o correr do tempo político poderá resolver. Na pesquisa eleitoral, a situação não se alterou em relação à disputa de 2002. O melhor candidato tucano é o prefeito de São Paulo, José Serra, o único que iria para o segundo turno, mas perdendo no primeiro por 42% a 24%, praticamente os mesmos números do primeiro turno de 2002: 46,4% para Lula e 23,2% para Serra.
Mas na pesquisa qualitativa, onde é medida a percepção dos eleitores, Serra tem imagem tão positiva quanto a de Lula, 73%, e ainda por cima tem um índice negativo menor -— 26% de Lula contra 22% de Serra. O saldo positivo é a favor de Serra: 51% a 47%.
Lula, como pessoa, recebe uma média alta de 7,5, que vai caindo à medida que sua imagem vai sendo decomposta e confundida com o cargo que ocupa e com o governo que comanda: tira 6,4 como presidente, e 6,1 pelo conjunto da obra de seu governo. Essas pequenas quedas podem gerar fortes impactos eleitorais, segundo os analistas do Instituto Ipsos-Brasil que fez a pesquisa.
Para se avaliar como a atuação dos petistas tem o potencial de afetar a imagem de Lula, basta ver que entre as cinco piores avaliações da pesquisa, três são de petistas de alto coturno: o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, levou uma nota 5,1 e tem um saldo positivo de apenas 6%; a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, teve uma nota 4,9, a mesma do ministro José Dirceu, que tem além do mais um saldo negativo de imagem de 3%. Entre eles ficam a governadora do Rio, Rosinha Garotinho, com nota 5,2 e o ex-presidente Itamar Franco, com 5.
Já a avaliação de Serra como prefeito de São Paulo é praticamente igual à de Lula como presidente, 6,5 contra 6,4. A maioria dos eleitores (61%) acha que já dá para avaliar o governo, e desses, a maioria não votaria em Lula. Mas os demais 39%, que se dividem entre os que acham que o governo só pode ser analisado a partir do terceiro ano, até os que acham que só mesmo depois de um segundo mandato ele poderá ser avaliado, tendem a apoiar mais Lula do que a rejeitá-lo, o que demonstra que ainda há uma grande dose de boa vontade com a figura do presidente Lula.
O dilema do PSDB é que embora o prefeito José Serra seja o mais bem colocado entre os políticos tucanos, seguido logo depois pelo ex-presidente Fernando Henrique, os dois são os mais improváveis candidatos, Serra por uma impossibilidade moral de largar a prefeitura paulistana, e o ex-presidente por colocar-se acima da contenda, desejando o papel que está desempenhando hoje, de principal liderança e grande vocalizador das posições do PSDB. Até porque, já tendo vencido Lula duas vezes no primeiro turno, Fernando Henrique não se arriscaria a dar a chance de Lula revidar as derrotas.
Os dois têm também um empecilho que aparece nas pesquisas: não têm mais para onde crescer, pois são muito bem conhecidos do eleitorado. Como a situação quantitativa não se alterou desde 2002, o PSDB teria que tentar alguma coisa nova para enfrentar Lula que, embora abalado em sua imagem, ainda é o favorito. Os tucanos acham que é provável que o governo vá se desgastando mais ainda, chegando no ano eleitoral mais fraco do que hoje e bem mais vulnerável do que em 2002.
A possibilidade de o governador de Minas Aécio Neves, vir a ser o candidato já no próximo ano, embora improvável, não deve ser descartada de todo. Ele é o candidato que tem mais espaço para crescer, pois é pouco conhecido fora de seu estado, mas tem um saldo positivo de 16%, com a menor avaliação negativa de toda a pesquisa. Pelo menos a decisão sobre o candidato terá que passar por Minas, assim como se deslocou para lá a reunião bimensal que os tucanos vêm fazendo para avaliar suas estratégias, que sempre eram realizadas em São Paulo e Brasília.
Embora o prefeito José Serra seja o candidato mais competitivo hoje, uma projeção de crescimento de intenção de votos à medida que aumenta o conhecimento do eleitorado sobre os candidatos coloca o governador Aécio Neves como o de maior potencial, seguido por Serra e Alckmin. Para grupos políticos como o do próprio Serra, e também para o do governador Aécio Neves, Fernando Henrique seria o melhor candidato, já que, eleito, provavelmente não tentaria a reeleição em 2010.
O governador Geraldo Alckmin tem um saldo bom, e uma familiaridade apenas média junto aos eleitores, o que indica um potencial de crescimento. Ele está na mesma categoria do prefeito do Rio Cesar Maia, um possível adversário que também teria espaço para crescer. Mas enquanto o saldo de Alckmin entre as imagens positiva e negativa é de 20%, o de Cesar é de apenas 4%. Os governadores Aécio e Alckmin, e o senador Tasso Jereissati são os que tiveram avaliação mais positiva em seus estados. Cesar Maia e o ex-governador Garotinho recebem notas inferiores em seus estados às dos tucanos.
O ex-governador Garotinho é o que tem um saldo positivo de imagem mais baixo entre os presidenciáveis mais destacados: apenas 8%. Isso por que seu índice negativo é de 40%, no mesmo patamar de políticos como Antonio Carlos Magalhães e Orestes Quércia ( 43%) e o presidente da Câmara Severino Cavalcanti (40%). O campeão da imagem negativa é Paulo Maluf, com um índice de 65%, o que lhe dá um saldo negativo de espetaculares 45%.
A candidatura de Garotinho, porém, se apoiada na estrutura do PMDB, poderá ser um complicador, pois baseará sua campanha criticando tanto PT quanto PSDB, se apresentando como uma alternativa nova aos três governos seguidos com a mesma política econômica.
O GLOBO
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