TÓQUIO - No exterior, Lula demonstra um misto de satisfação e incômodo. Sorri e saboreia os acordos assinados mundo afora. Fica acabrunhado quando se vê na mão de intérpretes. Ontem, não sabia dizer "thank you" nem "see you" ao se despedir de um executivo japonês.
Segundos de silêncio. Cara feia. Até que veio a intérprete para o salvar.
À noite, o presidente se soltou. Jantou só com brasileiros na casa do embaixador brasileiro em Tóquio. Confraternizou com seus ministros. Gastou um jantar do outro lado do mundo para estar com gente que o acompanha todos os dias em Brasília.
Lula exercitou sua auto-suficiência. Explicou não estar com vontade de falar com a imprensa. Está mudo na Ásia. Todos querem perguntar sobre a CPI dos Correios. Demonstrou como preza a mídia. Atacou pelas costas pelo menos um jornalista. Disse para o coletivo: "Amanhã [hoje], se eu estiver com vontade, eu falo".
Espontâneo, o presidente fez análises do jeito que gosta: informais e com muitas palavras chulas. Impublicáveis, exceto coisas leves como "temos de ter saco para aturar a Argentina". Na visão lulista de política externa, embora recomendem "chutar o balde", o Brasil precisa "suportar" os argentinos.
Sobre o Chile, o presidente da República disse que esse país amigo "faz acordos com os Estados Unidos" como se estivesse, vá lá, "se danando para a gente".
"Eu sei que vocês estão sendo procurados pelos repórteres", disse Lula ao grupinho de deputados amigos que o segue de maneira vassala. Todos juraram ao presidente que nada contam sobre o que se passa entre as paredes do Aerolula.
Para azar de Lula e sorte da mídia, nem só de deputados fiéis é feito o mundo. Lula não fala, mas os deputados falam. Bem como os outros comensais do jantar toquiota.
folha de s paulo
Entrevista:O Estado inteligente
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