Todos concordamos que derrubadas de governos necessitam atender a algumas condições objetivas a fim de serem bem-sucedidas, pois não?
Pois bem, ainda que PFL, PSDB e afins estivessem tomados da urgente agonia de marchar sobre os palácios do Cerrado para desalojar do poder o PT, careceriam de tropas e apoios para tal.
Mais não fosse porque os potenciais revoltosos estão dispersos, muitos deles formam fileiras com o Governo, que se diz agredido, e parecem mais entretidos com questões específicas do que interessados em confrontos institucionais.
Alguns estão ocupados em fazer os salários chegarem ao fim do mês (caso dos militares); outros sustentam-se em verbas públicas, se apóiam na condescendência oficial para com os chamados marcos legais de uma sociedade organizada (caso do MST); um outro grupo dedica-se mais a engendrar formas de vender os respectivos apoios no Congresso (caso dos partidos ditos aliados) do que em tramar derrubadas de cidadelas inimigas.
À oposição também não faltam tarefas mais estafantes e produtivas. Conspirar para tirar do posto um Luiz Inácio da Silva ainda cheio de gás nas pesquisas, nessa altura é contraproducente.
Entre os que têm muito a fazer por si antes de pensar da vida alheia, está o PSDB. Longe de dirimir suas dúvidas internas, se não tratarem de organizar o vaivém daqueles egos todos muito exuberantes, os tucanos tão cedo não terão condições de pôr o pé na estrada para tentar o trajeto de volta ao Planalto.
No PMDB, o ex-governador Anthony Garotinho anda indisponível até resolver umas questões com a Justiça; o pré-candidato do PFL e prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, ainda apresenta marcas dos hematomas provocados pela intervenção federal no sistema de Saúde do Rio, suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, mas danosa para sua imagem.
Nem a senadora Heloísa Helena está livre no momento para golpear: o PSOL ainda aguarda o registro legal para iniciar seus trabalhos eleitorais.
Não havendo tropas, não havendo ânimo de confrontação à legalidade – hoje todo concentrado no MST –, seria preciso haver alguém já pronto para assumir o lugar o presidente deposto em seguida ao golpe.
Tal pessoa não existe. À oposição, diga-se, interessa muito mais o calendário do desgaste ao longo dos quase dois anos restantes. Rupturas fazem do Governo uma vítima e, amanhã ou depois, ainda , voltam-se contra seus autores como a campanha do "Fora FHC" assombra hoje o PT.
Uma última condição objetiva necessária ao golpe seria o clamor popular. Este, educado, restrito aos salões, à constatação de perplexidades crescentes, transborda às ruas mas não tem forma de elogio à quebra da legalidade.
O que há são manifestações de repúdio à indiferença do mundo do poder auto-referido às regras de conduta vigentes no mundo real. Aí sim, podem surgir contestações de ordem institucional se o poder público não tomar a frente de um processo de reestruturação geral de comportamentos, a começar pela revogação da pretendida compra de retiradas de assinaturas de apoio à instalação da CPI dos Correios.
Armação ilimitada
Não é a primeira vez que o Governo busca se defender de denúncias de corrupção declarando-se na iminência da derrubada.
Desse mesmo jeito o ministro José Dirceu pôs à sua moda os "pingos nos is" no caso Waldomiro Diniz. Há pouco mais de um ano, arrumou-se uma gravação do então vice-procurador-geral José Roberto Santoro dizendo – durante interrogatório com o negociante Carlos Cachoeira –, que corria o risco de ser acusado de tramar contra o Governo, entregou-se a fita a quem de direito no comando do horário nobre e deu-se o milagre da transformação da corrupção em conspiração.
Passo atrás
O fundador e primeiro presidente do Ibama, Fernando César Mesquita, olha a cena do aumento do desmatamento e constata: "Não há mistério, é resultado de ineficácia administrativa, loteamento político e fragilidade no enfrentamento da questão. Acusar governadores não resolve o problema nem mostra controle sobre a política ambiental".
Na opinião de Fernando César, os números comparativos traduzem a situação acima descrita. De acordo com os dados do Ministério do Meio Ambiente, ano passado foram desmatados 26 mil quilômetros quadrados no País.
Em 1989, quando da criação do Ibama, o desmatamento atingiu 17.780 quilômetros. No ano seguinte, caiu para 13.730 e, entre 1990 e 1991 houve nova redução para 11.030 quilômetros quadrados.
o dia
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