RUBEM DE FREITAS NOVAES
Poderíamos falar de um novo tempo que deverá resultar de lições a serem aprendidas da crise atual. Tempo de menos artificialismos impostos por governos em setores da economia, como o mercado imobiliário americano; tempo em que agências de classificação de risco terão de aperfeiçoar seus critérios de avaliação ou desmoralizar-se em definitivo; tempo em que assembléias de acionistas e conselhos de administração terão de estruturar, para executivos, esquemas de remuneração capazes de colocar em linha interesses de proprietários e gestores; tempo em que banqueiros centrais terão de aprender a evitar o aprofundamento de crises, sem lançar sementes para crises subseqüentes ainda maiores etc. etc. Mas queremos falar é de um outro “tempo”: o da velocidade de ajustamentos e transformações.
Hoje é comum surgirem comparações com a Grande Depressão dos Anos 30, que durou praticamente uma década. Nada mais falso. A rapidez na transmissão de informações, o desenvolvimento das “tecnologias” de política econômica e a espantosa agilidade de ajustamento dos mercados globalizados comprimem fortemente o prazo de qualquer crise.
Anos viraram meses, meses viraram dias e ficará para trás quem não se der conta da nova realidade.
Nas Bolsas de Valores de todo o mundo vemos o exemplo mais marcante desse novo “tempo”. E, para as ações brasileiras, a história não é diferente.
Faz poucos meses e nossos analistas se entusiasmavam com o “grau de investimento” concedido ao Brasil pelas agências de risco. Hoje, nossas principais empresas já valem em dólar apenas cerca de 35% do que chegaram a valer. E já tivemos dias piores! Na lida do mercado acionário aprendemos três regras fundamentais. Uma, freqüentemente lembrada por investidores do calibre de Warren Buffet, é que “se vende ao som dos violinos e se compra no trovejar dos canhões”, ou seja, nada de acreditar que estados de euforia ou depressão são permanentes.
Nesses momentos, sempre agir na contramão dos ansiosos e apressados. Outra é que, “no mercado, se come como pinto e se defeca como pato”, tradução do fato de que a perda da confiança se dá em velocidade bem maior do que a sua conquista. A terceira regra, finalmente, ensina que “se compra no boato e se vende no fato”, refletindo a constatação de que a Bolsa lida com expectativas, antecipando-se de muito aos acontecimentos futuros.
É certo que da teoria para o timing perfeito vai uma grande distância.
Mas fica a lembrança dessas regras e de que vivemos em um novo “tempo” para que nossos investidores pensem com frieza e não se deixem tomar por momentos de depressão e pânico, efêmeros por natureza e, seguramente, maus conselheiros.
RUBEM DE FREITAS NOVAES é economista.
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