NOVA YORK. No recente debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, uma eleitora perguntoulhes qual o sacrifício que pediriam aos cidadãos americanos para superar a crise econômica, e o democrata Barack Obama deu o exemplo do que não deveria ser feito: lembrou que, logo após os atentados de setembro de 2001, o presidente Bush foi à televisão e exortou os americanos a “saírem e comprarem”.
“Este não é o tipo de convocação que os americanos estavam querendo ouvir”, censurou Obama. Foi impossível não se lembrar do presidente Lula mandando seus ministros tomarem cuidado com o crédito “porque o Natal está chegando”, e depois incitando os cidadãos a manter seus hábitos de consumo: “Continuem fazendo o que sempre fizeram”, conclamou o presidente, garantindo que, se precisar ir à televisão para avisar “que a porca torceu o rabo”, ele irá.
Pois há indícios de que a porca já torceu o rabo há muito tempo, e de que o governo, depois de um tempo perdido em arrogâncias, está tomando providências cujo teor não é revelado, pelo menos na sua totalidade. A oposição, por exemplo, está se debruçando sobre a medida provisória editada recentemente para a atuação do Banco Central no resgate do sistema financeiro brasileiro e, na definição de um assessor, “montamos um quebra cabeça que não fecha”.
Apesar de definir sua ação como “mera operação financeira”, o Banco Central, no limite, tem a autorização pela medida provisória de estatizar as instituições financeiras que ele socorrer, sem limitações para essa intervenção, o que em tese indica que ele está pronto para atuar caso não apenas os pequenos bancos precisem de auxílio. E tudo será feito sob segredo de Justiça.
São muitos os pontos de inconsistência na política econômica.
Se o dólar dispara muito, prejudica as importações, mas melhora as exportações — porém, estas também dependem do preço das commodities e do desempenho da economia mundial, ambos, com tendência de baixa.
As empresas estão sem crédito para exportar, ou seja, não ganham com o aumento do dólar sobre as vendas que já tinham prometido, e nem conseguem crédito para vender mais. Para o economista José Roberto Afonso, um dos “pais” da Lei de Responsabilidade Fiscal, “há uma bomba-relógio montada no campo fiscal”.
O que seria herança maldita para o sucessor, pode explodir no colo de quem a gestou.
Se a receita cair mais rapidamente do que se pensava, o governo ou terá que cortar gastos, ou cortar fundo nos juros e no superávit primário.
“Como será impossível ajustar via recarga tributária, finalmente Lula terá que escolher se brigará com os servidores, os aposentados e os bolsistas, ou com os banqueiros.
Não vai dar mais para bolsas aos ricos e aos pobres”, completa Afonso.
A equação é simples: até aqui, o equilíbrio fiscal tem sempre se baseado no aumento de receita tributária, e esta, com o decréscimo do crescimento da economia, vai começar a cair.
Já há informações de que, passado o segundo turno das eleições municipais, o governo vai apresentar uma reforma do Imposto de Renda, com novas e maiores alíquotas, e até estariam pensando novamente no imposto sobre grandes fortunas.
Não existe um consenso sobre a rapidez da desaceleração da economia, em virtude da recessão global que se avizinha. Há economistas, como Edmar Bacha, do BBAItaú, que já prevêem uma queda de crescimento de 5% este ano para 2% em 2009, o que representaria um baque formidável em termos de emprego e investimentos e, na prática, um crescimento zero no próximo ano.
Outros, como José Roberto Afonso, acham que a desaceleração da economia brasileira não será tão rápida como a européia, a japonesa ou mesmo a americana: só o embalo de crescimento em que estamos este ano já garantiria 2,6% de expansão em 2009. “Ou seja, uma taxa abaixo disso só ocorreria se entrarmos em forte recessão já no início do próximo ano, e por ora não há tendência disso”, comenta.
O lado real da economia será contaminado pela crise financeira, mas ainda levará um pouco de tempo. “Passado o incêndio, câmbio e crédito voltarão aos poucos para a normalidade, mas, em outro nível, sem a farra do câmbio valorizado ou do crédito fácil do passado”, analisa Afonso.
Já Edmar Bacha, que deu uma palestra no Centro de Estudos Brasileiros na Universidade Columbia, acha que o governo, com as reservas de mais de US$ 200 bilhões, tem condições de decidir quando intervir no câmbio, não havendo o perigo de perder as reservas para garantir uma taxa cambial, já que o câmbio é flutuante e não mais fixo, como era nas primeiras crises internacionais vividas pelo país nos anos 1990 do século passado.
Bacha está relativamente otimista com a situação econômica do país, e diz que o único perigo é o governo insistir em manter um crescimento do PIB no mesmo nível de 2007 e 2008, o que considera impossível diante da crise internacional.
Já o economista José Roberto Afonso acha que a economia brasileira teria que mudar diante do quadro novo, e adverte: “Seria um suicídio completo subir taxas de juros e, se Lula gosta tanto de ser Primeiro Mundo, já está atrasado para diminuir a taxa, como fizeram todos os bancos centrais, inclusive o chinês. Mesmo que corte igual aos outros, poderá ficar tranqüilo que continuará pagando a maior taxa de juros reais do mundo”.
Para ele, “será impossível continuar brincando com o câmbio”. Não poderemos mais ficar brincando de “exportadores financistas”, que exportavam barato ou até com prejuízo para ganhar no circuito financeiro.
Na coluna de ontem troquei as bolas: é a dívida externa dos Estados Unidos que está em US$ 10 trilhões, e não o déficit externo.
Entrevista:O Estado inteligente
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