Na residência oficial do bairro das Mangabeiras, que dá nome ao Palácio localizado no seu ponto mais alto, não se vê sinal de tempestade eleitoral. Nenhum entra e sai, nada de assessores, telefonemas, aflição.
Mas que houve algo de anormal, isso é inequívoco. As marcas estão lá, nítidas, no espírito do jovem governador, bem menos tolerante, mais sensível a críticas, que o habitual.
Sorridente, tenta de quando em vez fazer alguma graça com a situação, informa já ter na mente desenhado o mapa dos equívocos cometidos, só não desce a detalhes porque ainda mantém viva, senão uma certeza, uma esperança forte na vitória.
"Se não acontecer vou ser o primeiro a chamar a imprensa e assumir: fui derrotado. Minha tese sobre a possibilidade de aliança administrativa entre adversários partidários terá perdido agora, mas pode vir a ser politicamente vitoriosa amanhã."
Uma tradução mais elaborada para o "bola para a frente" subjacente ao discurso que propositadamente exacerba as dimensões do acontecido antes que os outros o façam.
Analisando o cenário friamente, Aécio Neves não se sente derrotado coisa nenhuma. "Das três maiores capitais, Belo Horizonte foi onde o vencedor do primeiro turno ganhou com o maior percentual", diz, referindo-se aos 43% de Márcio Lacerda contra os 31% de Eduardo Paes no Rio e os 33% de Gilberto Kassab em São Paulo.
"O adversário sobe nas pesquisas dizendo que é meu aliado e sou eu o derrotado?", pergunta sem realmente indagar; constata de si para si.
Se vier a perder a eleição, manterá do PMDB representado pelo candidato Leonardo Quintão a devida distância política, avisa já frustrando expectativas de que possa de imediato estabelecer com ele a mesma relação construída ao longo de seis anos com o atual prefeito e parceiro de aliança, o petista Fernando Pimentel.
"Primeiro é preciso ver a equipe, examinar se não haverá um retrocesso de qualidade administrativa. Aliás, primeiro vamos esperar o resultado do próximo domingo."
Seja qual for Aécio já está demarcando seu terreno. Não assume o ato como resultado de qualquer ensinamento, mas talvez o governador tenha revisto conceitos a respeito de unanimidades. Sobre transferência de votos, certamente reviu.
Ainda que seu candidato ganhe, não terá sido ungido no altar de sua popularidade, hoje na marca dos exatos 91,6%. Ruim para ele?
"Pior para o presidente Lula, pois quem perdeu com isso foi a construção do discurso para 2010." A constatação de que capital eleitoral não é legado, na visão de Aécio Neves, fere o plano de sucessão do Planalto.
"Estanca o processo de beatificação dos candidatos de majestades e tira Dilma Rousseff da condição de ungida desde já pela mão de Lula."
E, pelo visto, põe o governador de Minas em aberta oposição.
Assim é
Uma coisa é a repercussão eleitoral do conflito entre as polícias civil e militar de São Paulo, quinta-feira nas cercanias do Palácio dos Bandeirantes. Esta, se tiver de aparecer, será daqui a uma semana ou nas próximas pesquisas.
Outra é o uso político da greve que já dura um mês e virou assunto de campanha a partir do conflito. Criou-se um fato de geração obviamente não espontânea.
O governador José Serra aponta o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, como o responsável, que repudia a acusação, mas estava lá, microfone na mão, incitando policiais armados para pressionar "quem manda" a negociar na base da força bruta.
Este é também um fato. Ao qual acrescenta-se a ausência de qualquer reparo à atitude por parte da campanha de Marta Suplicy. Ao contrário: em função do caso, ela passou a comentar a greve que até então estava fora da sua agenda.
Portanto, deu margem à conclusão de que a batalha de polícias lhe foi circunstancialmente conveniente. Mais não seja, para mudar a pauta das insinuações pessoais sobre Gilberto Kassab para os ataques a Serra como administrador da crise.
Fica até parecendo que o PT, dando por perdido o embate municipal, resolveu se voltar contra o futuro adversário federal.
O presidente Lula comentou o assunto sem fazer referência à "turbinada" que pôs o tema na pauta política, o PT rejeita a mais leve suposição de que tenha tirado proveito do conflito, mas é de se perguntar como reagiria se porventura um sindicalista ligado ao PSDB fosse para as proximidades do Planalto fazer o papel de mestre-de-cerimônias de um hipotético levante entre a Polícia Federal, os arapongas da Abin e tropas do Exército subordinadas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim.