Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 16, 2008

A GLOBO mostra como delegados foram afastados

Delegados são afastados da operação

Na reunião com a Cúpula da Polícia Federal, não foi dito quem vai assumir as investigações na próxima semana. A saída de Protógenes Queiroz do caso representa um episódio inédito na instituição


O repórter César Tralli mostra como foram os bastidores da reunião em que ficou decidido o afastamento dos delegados que atuam no inquérito da Operação Satiagraha.

Prédio da Policia Federal em São Paulo. Foi na sala da Superintendência, no 9° andar, que o comando da Operação Satiagraha recebeu o comunicado do afastamento do caso.

A reunião de emergência, marcada por queixas, troca de insultos e acusações, durou três horas e meia na tarde desta segunda. Participaram do encontro 10 delegados, sendo três representantes da cúpula da Polícia Federal.

O superintendente em São Paulo, Leandro Daiello Coimbra, o diretor de combate ao crime organizado, Roberto Troncon, e o diretor de combate a crimes financeiros, delegado Paulo Tarso Teixeira.

Também estavam na mesa os delegados responsáveis pela investigação contra Daniel Dantas, controlador do grupo Opportunity. Protógenes Queiroz, Carlos Eduardo Pellegrini, Karina Murakami Souza e Vitor Hugo Rodrigues Alves.

É Vitor Hugo que finge aceitar a proposta de US$ 1 milhão para excluir Daniel Dantas e parentes dele da operação policial. Os delegados ouviram da cúpula da Polícia Federal que eles não poderiam mais continuar no caso porque estavam emocionalmente envolvidos com a investigação.

Ainda segundo os relatos de quem estava na reunião, o delegado Protógenes Queiroz foi duramente criticado por insubordinação. Na véspera das prisões, semana passada, Queiroz se negou a entregar aos superiores cópia da decisão judicial com nomes e endereços dos alvos da operação. Durante a reunião desta segunda, o delegado justificou a atitude alegando que temia vazamentos dentro da própria polícia.

De acordo com os delegados presentes, Protógenes reafirmou o desejo de continuar no comando das investigações. Ele teria dito que o curso que fará na semana que vem em Brasília não o impediria de prosseguir nas apurações.

Oficialmente, a Cúpula da Polícia Federal atribui a saída de Queiroz exclusivamente à participação dele no curso de aperfeiçoamento. No entanto, segundo os delegados do caso, não restou dúvida no encontro de emergência que a decisão de afastá-los das investigações era definitiva e irrevogável.

Durante a reunião com diretores da Policia Federal, os delegados também reclamaram de falta de apoio. Foi cobrada dos superiores uma resposta para o pedido de reforço na equipe.

Segundo os delegados, na semana passada, eles já haviam solicitado peritos, escrivães e agentes para analisar toda a documentação recolhida em 58 endereços por ordem da Justiça.

Passados oito dias da Operação Satiagraha, uma tonelada de material apreendido sequer começou a ser examinada, de acordo com os delegados afastados. “As pressões sobre esses delegados que conduziram a operação estavam sendo muito grandes, muitos fortes. Não só de dentro da Polícia Federal, da direção geral, que talvez tivesse alguma censura a respeito da conduta de algum deles. Que nós não concordamos na realidade. Mas também de fora da instituição”, afirmou Amauri Portugal, diretor sindical dos delegados da Polícia Federal.

Na reunião entre os delegados e Cúpula da PF, também não foi dito quem vai assumir as investigações a partir da próxima semana. Cada delegado do grupo vai para um lado. Karina Murakami Souza será transferida para a Corregedoria da instituição. Carlos Eduardo Pellegrini volta para o Departamento Anti-Drogas. Vitor Hugo Rodrigues Alves já reassumiu funções no interior de São Paulo.

Protógenes Queiroz vai se dedicar integralmente ao curso de especialização na Academia Nacional de Polícia.

Queiroz é o mais antigo do grupo: está na Polícia Federal há 10 anos e já comandou grandes investigações, como as que levaram para a cadeia Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, o filho dele Flávio, o contrabandista Law Kin Chong e juízes de futebol envolvidos no escândalo conhecido por ‘máfia do apito’.

A saída de Queiroz do caso Daniel Dantas, Naji Nahas representa um episódio inédito na Polícia Federal.

É a primeira vez que um delegado deixa o comando de uma grande operação no auge das investigações. Nesta quarta-feira à tarde, o procurador da Republica em São Paulo, Rodrigo de Grandis, encaminhou oficio à direção da Polícia Federal pedindo o retorno imediato da equipe de delegados ao comando da investigação.

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